TraduçãoUma revisão cienciométrica das pesquisas nos Estudos da Tradução no
século XXI [A scientometric review of research in Translation Studies in the
twenty-first century]
Resumo
O campo dos Estudos da Tradução tem se expandido rapidamente ao longo do século XXI, sobretudo devido à crescente demanda por tradutores e intérpretes profissionais. Este estudo realiza uma revisão cienciométrica do campo, com o intuito de identificar as tendências e os padrões que surgiram durante as duas últimas décadas. A análise de cocitação de documentos foi realizada a partir de 6.007 artigos científicos publicados nas 15 revistas dedicadas aos Estudos da Tradução, que foram indexadas na Web of Science entre janeiro de 2001 e dezembro de 2020. Doze redes de análise de cocitação de documentos foram geradas e comparadas. Tanto a análise quantitativa quanto as métricas temporais e estruturais confirmaram a robustez e a confiabilidade de uma rede envolvendo 10 clusters distintos de pesquisa. Uma visualização da linha do tempo foi gerada para permitir identificar a forma como esses clusters evoluíram ao longo do tempo. Dez clusters foram apontados como os maiores subdomínios no interior dos Estudos da Tradução, quais sejam, competência em tradução, tradução em zonas de conflito, formação de tradutores, tradução colaborativa, tradução e sociedade, política linguística, pós-edição e revisão, tradução de mídia, profissionalização em tradução e localização de websites. Além disso, a análise de detecção de bursts identificou as 20 publicações mais influentes nessa amostra. A partir desses achados, discutimos sobre a maneira como as tendências observadas em cada cluster ajudam a impulsionar a evolução dos Estudos da Tradução. Além de propormos diretrizes metodológicas para futuras pesquisas, abordamos, ainda, as implicações para o ensino, a pesquisa e a teorização.
Palavras-chave:
Índice
- Resumo
- Palavras-chave
- Nota dos Tradutores sobre a tradução do texto A scientometric review of research in Translation Studies in the twenty-first century para a língua portuguesa do Brasil
- 1.Introdução
- 2.A Cienciometria nos ETs
- 3.Metodologia
- 4.Resultados
- 5.Discussão
- 6.Conclusão
- Financiamento
- Notas
- Referência
- Apêndice
- Endereço de correspondência
Nota dos Tradutores sobre a tradução do texto A scientometric review of research in Translation Studies in the twenty-first century para a língua portuguesa do Brasil
A presente tradução é o resultado de mais uma das atividades realizadas pelos membros do GETTEC - Grupo de Estudos e Pesquisa em Tradução, Tecnologias, Ensino e Cienciometria, vinculado aos Cursos de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil.
As atividades do GETTEC tiveram início em 2018 e, de imediato, seus membros, envolvidos em pesquisas inseridas em distintos subcampos dos Estudos da Tradução e da Interpretação, tais como ensino de tradução, tecnologias da tradução e da interpretação, tradução audiovisual, tradução intersemiótica, dentre outros, perceberam que basear seus estudos em uma única lista de autores não lhes forneceria uma visão abrangente desses campos disciplinares e tampouco lhes mostraria suas mudanças.
Buscando traçar o curso dessas mudanças, os membros do GETTEC decidiram implementar análises bibliométricas e cienciométricas, mais especificamente em seus subcampos de estudos, para que pudessem melhor conhecer suas tendências e os tipos mais representativos de metodologias utilizados e então intercambiá-los.
A partir desses primeiros passos, as pesquisas do grupo resultaram na publicação de dois livros.
Um deles, publicado em português, tem como título Estudos Bibliométricos e Cienciométricos em Tradução: tendências, métodos e aplicações.
Nessa primeira publicação, que possuiu sete capítulos, tivemos a oportunidade de combinar vários métodos e técnicas de pesquisa e fornecer aos leitores importantes análises estatísticas sistemáticas e abrangentes, que se vistas em conjunto, somaram mais de 1.300 textos submetidos aos softwares de análises bibliométricas. As análises realizadas apresentam informações importantes de subcampos dos Estudos da Tradução, da Interpretação e do Ensino de Línguas Estrangeiras, principalmente no que tange aos temas abordados, autores e instituições mais proeminentes, palavras-chave mais recorrentes, coautorias e recortes temporais que se relacionam a determinados paradigmas de pesquisa (ESQUEDA, 2020ESQUEDA, Marileide Dias (org.). Estudos Bibliométricos e Cienciométricos em Tradução: Tendências, Métodos e Aplicações. Curitiba: Editora CRV 2020 ).
O segundo livro, publicado em inglês, contendo igualmente sete capítulos, tem como título Bibliometric and Scientometric Investigations in Translation and Interpreting Studies: numbers from Brazil and other countries.
Nessa segunda publicação, buscamos examinar bibliométrica e cienciometricamente não apenas os tipos de publicação nos campos disciplinares dos Estudos da Tradução e da Interpretação, tais como as dissertações de mestrado, teses de doutorado, artigos e capítulos de livros e seus respectivos dados, mas também as modalidades da tradução e da interpretação, quais sejam, a tradução técnica, literária, a interpretação comunitária, apenas para citar algumas (ESQUEDA, 2022ESQUEDA, Marileide Dias (org.). Bibliometric and Scientometric Investigations in Translation and Interpreting Studies: numbers from Brazil and other countries. Curitiba: Editora CRV 2022 ).
Além desses dois livros, os membros do GETTEC também publicaram artigos relacionados a análises bibliométricas e cienciométricas envolvendo as publicações que abrangem algumas das chamadas tecnologias de ponta atreladas aos Estudos da Tradução e Interpretação (ESQUEDA; FREITAS, 2022, aESQUEDA, Marileide Dias; FREITAS, Flávio de Sousa 1991 to 2019: The rise of machine interpreting research. Diacrítica, v. 36, n. 2, p. 317–335 2022a , b. Machine translation: Mapping technological developments through scientometrics. Ciência Da Informação, v. 51, n. 3, p. 113–128 2022b ), a saber, os softwares de tradução e interpretação automáticas. Tais análises foram feitas a partir dos dados disponíveis na biblioteca digital IEEE Xplore, que oferece acesso a conteúdos técnico-científicos publicados pelo instituto norte-americano IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers) e seus parceiros. Segundo informações de seu portal, a biblioteca digital abriga mais de cinco milhões de documentos na íntegra, provenientes das publicações mais citadas da Engenharia Elétrica, Ciência da Computação e Eletrônica. A Universidade Federal de Uberlândia, à qual estamos filiados, tem livre acesso aos documentos da IEEE Xplore.
Vale igualmente a pena mencionar que seis membros do grupo defenderam suas dissertações de mestrado envolvendo a Bibliometria, Cienciometria e os Estudos da Tradução e da Interpretação e há, neste ano de 2023, mais quatro deles desenvolvendo seus trabalhos na mesma temática, sendo três pós-graduandos de mestrado e um de doutorado, todos eles vinculados ao já referido Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil.
É nesse cenário de intensas atividades que o GETTEC decidiu solicitar os direitos de tradução para a língua portuguesa do Brasil do texto escrito por Xuelian Zhu e Vahid Aryadoust, filiados à Sichuan International Studies University (Universidade de Estudos Internacionais de Sichuan - China) e à Nanyang Technological University (Universidade Tecnológica de Nanyang - Cingapura), respectivamente. Os direitos de tradução foram cedidos pela Editora John Benjamins, a quem agradecemos a oportunidade.
Publicado na Revista Target, com o título A scientometric review of research in Translation Studies in the twenty-first century, em tradução nossa “Uma revisão cienciométrica das pesquisas nos Estudos da Tradução no século XXI”, o artigo de Zhu e Aryadoust (2022) ressalta o que antes dissemos sobre a importância de identificarmos os autores e as instituições mais proeminentes, as palavras-chave mais recorrentes, coautorias, os recortes temporais e os paradigmas de pesquisa mais promissores nos Estudos da Tradução e Interpretação.
Além disso, Zhu e Aryadoust (2022) revelam os principais temas de pesquisa inseridos no século XXI nos Estudos da Tradução e Interpretação, a saber: competência em tradução, tradução em zonas de conflito, formação de tradutores, tradução colaborativa, tradução e sociedade, política linguística, pós-edição e revisão, tradução de mídia, profissionalização em tradução e localização de websites. Esses dados são importantes, uma vez que podem nos mostrar novos e necessários rumos das pesquisas nesses campos disciplinares.
Com efeito, não podemos deixar de concordar com os autores quando afirmam existirem, inevitavelmente, algumas limitações no que tange à seleção das bases de dados e análise de dados, uma vez que não há uma maneira absolutamente objetiva de revelar a estrutura da ciência devido à influência de configurações institucionais, técnicas de recuperação de informações e seleção de rede de citações (ZHU; ARYADOUST, 2022, p. 171).
Para finalizar esta nota que precede nossa tradução, vale ressaltar que utilizamos, dentre os métodos de tradução existentes, que podem ser descritos como (1) interpretativo-comunicativo, (2) literal, (3) livre ou (4) filológico, o primeiro deles, isto é, o método (1) interpretativo-comunicativo, que permitiu as transformações tradutórias necessárias para comunicar o sentido que compreendemos fazer parte do conteúdo do artigo.
A título de ilustração, o método literal (2), como o nome deixa evidente, busca reproduzir literalmente as palavras de uma língua para a outra e é bastante utilizado em traduções bíblicas, para fins de estudo léxico-semântico; é também denominado como método de transcodificação linguística; (3) o método livre alude a modificações de categorias semióticas do conteúdo (como nos casos encontrados em adaptações livres de obras ou nas produções fílmicas oriundas de obras traduzidas); e o (4) método filológico, que alude às discussões (em nível acadêmico ou de crítica de tradução) sobre as traduções eruditas (filosóficas, literárias, clássicas ou outras) (cf. SHUTTLEWORTH; COWIE, 1993SHUTTLEWORTH, Mark; COWIE, Moira. Dictionary of Translation Studies. Manchester, UK: St. Jerome Publishing 1993.).
Assim, esperamos que a tradução que apresentamos a seguir possa servir de auxílio para aqueles docentes e pesquisadores que estejam à busca de novas propostas de pesquisa envolvendo os estudos bibliométricos e cienciométricos.
Flávio de Sousa Freitas
Gabriel Albuquerque Ferreira
Marileide Dias Esqueda
Os Tradutores
Julho de 2023
Referências desta Nota
1.Introdução
A tradução vem desempenhando, há séculos, um papel essencial nas atividades do comércio, da religião e no intercâmbio acadêmico entre as sociedades (MUNDAY, 2016Munday, Jeremy 2016 Introducing Translation Studies: Theories and Applications. 4th ed. Abingdon: Routledge. ). Devido, parcialmente, a essa relevância histórica, os Estudos da Tradução (ETs) emergiram como um campo disciplinar na segunda metade do século XX e continuam passando por mudanças de paradigma, modelos e metodologias (VAN DOORSLAER, 2007Van Doorslaer, Luc 2007 “Risking Conceptual Maps: Mapping as a Keywords-Related Tool Underlying the Online Translation Studies Bibliography .” In The Metalanguage of Translation, edited by Yves Gambier and Luc van Doorslaer, special issue of Target 19 (2): 217–233. , p. 223; CANDEL-MORA; VARGAS-SIERRA, 2013Candel-Mora, Miguel A., and Chelo Vargas-Sierra 2013 “An Analysis of Research Production in Corpus Linguistics Applied to Translation.” Procedia – Social and Behavioral Sciences 95: 317–324. , p. 318; LI, 2015Li, Xiangdong 2015 “International Visibility of Mainland China Translation Studies Community: A Scientometric Study.” In Rovira-Esteva, Orero, and Aixelá (2015, 183–204). , p. 184; MUNDAY, 2016Munday, Jeremy 2016 Introducing Translation Studies: Theories and Applications. 4th ed. Abingdon: Routledge. , p. 43). Para delinear o escopo e as áreas focais dos ETs, vários autores vêm se empenhando na identificação dos movimentos históricos e disciplinares da área (HATIM; MUNDAY, 2004Hatim, Basil, and Jeremy Munday 2004 Translation: An Advanced Resource Book. Abingdon: Routledge. ; HOLMES, [1988] 2004Holmes, James (1988) 2004 “The Name and Nature of Translation Studies.” In The Translation Studies Reader, 2nd ed., edited by Lawrence Venuti, 180–192. Abingdon: Routledge.; SNELL-HORNBY, 2006Snell-Hornby, Mary 2006 The Turns of Translation Studies: New Paradigms or Shifting Viewpoints? Amsterdam: John Benjamins. ), embora algumas dessas tentativas tenham sida criticadas por seu enfoque paroquial. Tem sido criticado, em especial, por sua ênfase nos textos em detrimento de seus tradutores, o modelo tripartite de Holmes ([1988] 2008), que divide os ETs em estudos descritivos, teóricos e aplicados (CHESTERMAN, 2009Chesterman, Andrew 2009 “The Name and Nature of Translator Studies.” In Translation Studies: Focus on the Translator, edited by Helle V. Dam and Karen Korning Zethsen, special issue of HERMES 42: 13–22.; PYM, 2010Pym, Anthony 2010 Exploring Translation Theories. Abingdon: Routledge.). Alega-se que a inovação tecnológica e o desenvolvimento social levaram os ETs para além da linguística e em direção aos domínios de pesquisas culturais, cognitivistas e sociológicas (CHESTERMAN, 2009Chesterman, Andrew 2009 “The Name and Nature of Translator Studies.” In Translation Studies: Focus on the Translator, edited by Helle V. Dam and Karen Korning Zethsen, special issue of HERMES 42: 13–22., 2019 2019 “Consilience or Fragmentation in Translation Studies Today?” Slovo.ru: Baltic Accent 10 (1): 9–20.).
Surge, dentro dos ETs, um fluxo de pesquisa voltado para os dados, com o objetivo de analisar o desenvolvimento do campo disciplinar e suas tendências de pesquisa. Esse fluxo de pesquisa aplica métodos bibliométricos – tais como a contagem de número de páginas, busca de palavras-chave, identificação de autores e centros de produção, codificação temática, análise de redes sociais e a análise de cocitação (ver GRBIĆ [2013]Grbić, Nadja 2013 “Bibliometrics.” In Handbook of Translation Studies, vol. 4, edited by Yves Gambier and Luc van Doorslaer, 20–24. Amsterdam: John Benjamins. para um panorama) – em uma tentativa de delinear a identidade do campo dos ETs. Estudos pioneiros de revisão de literatura têm se concentrado principalmente na Interpretação, envolvendo a interpretação de conferências (GILE, 2000 2000 “The History of Research into Conference Interpreting: A Scientometric Approach.” Target 12 (2): 297–321. ), a formação de intérpretes (MEAD, 2001Mead, Peter 2001 “Doctoral Work on Interpretation: A Supervisee’s Perspective.” In Getting Started in Interpreting Research: Methodological Reflections, Personal Accounts and Advice for Beginners, edited by Daniel Gile, Helle V. Dam, Friedel Dubslaff, and Bodil Martinsen, 121–143. Amsterdam: John Benjamins. ) e a pesquisa em interpretação comunitária (GRBIĆ; PÖLLABAUER, 2008a). No entanto, a atenção tem sido deslocada gradualmente para a pesquisa em tradução pertencentes a regiões específicas, tais como a Espanha (ROVIRA-ESTEVA; ORERO, 2011Rovira-Esteva, Sara, and Pilar Orero 2011 “A Contrastive Analysis of the Main Benchmarking Tools for Research Assessment in Translation and Interpreting: The Spanish Approach.” Perspectives 19 (3): 233–251. ), China (LI, 2015Li, Xiangdong 2015 “International Visibility of Mainland China Translation Studies Community: A Scientometric Study.” In Rovira-Esteva, Orero, and Aixelá (2015, 183–204). ) e o Irã (NOURAEY; KARIMNIA, 2015Nouraey, Peyman, and Amin Karimnia 2015 “The Map of Translation Studies in Modern Iran: An Empirical Investigation.” Asia Pacific Translation and Intercultural Studies 2 (2): 123–138. ). Esse fluxo de pesquisa também tem examinado subcampos disciplinares emergentes, como a neurobiologia e a interpretação (HERVAIS-ADELMAN; BABCOCK, 2020Hervais-Adelman, Alexis, and Laura Babcock 2020 “The Neurobiology of Simultaneous Interpreting: Where Extreme Language Control and Cognitive Control Intersect.” In Interpreting: A Window into Bilingual Processing, edited by Yanping Dong and Ping Li, special issue of Bilingualism: Language and Cognition 23 (4): 740–751. ), Linguística de Corpus e Tradução (CANDEL-MORA; VARGAS-SIERRA, 2013Candel-Mora, Miguel A., and Chelo Vargas-Sierra 2013 “An Analysis of Research Production in Corpus Linguistics Applied to Translation.” Procedia – Social and Behavioral Sciences 95: 317–324. ) e a análise do discurso nos ETs (ZHANG et al., 2015Zhang, Meifang, Hanting Pan, Xi Chen, and Tian Luo 2015 “Mapping Discourse Analysis in Translation Studies via Bibliometrics: A Survey of Journal Publications.” In Rovira-Esteva, Orero, and Aixelá (2015, 223–239). ).
Embora os estudos anteriormente mencionados tenham moldado o nosso entendimento sobre os domínios do conhecimento nos ETs, o escopo de investigação e os métodos de pesquisa podem, e devem, ser aprimorados. Mais especificamente, tem havido demanda nos ETs por uma ênfase em métodos quantitativos. De acordo com Gile (2000 2000 “The History of Research into Conference Interpreting: A Scientometric Approach.” Target 12 (2): 297–321. , p. 297), “pouquíssimas análises quantitativas tentaram medir os fenômenos e/ou verificar as ideias e tendências gerais”11. “[…] very few quantitative analyses have tried to measure the phenomena and/or check general impressions and trends”. das pesquisas desse campo disciplinar. Essa ênfase nos métodos quantitativos é ainda mais evidenciada por Rovira-Esteva, Franco Aixelá e Olalla-Soler (2019Rovira-Esteva, Sara, Javier Franco Aixelá, and Christian Olalla-Soler 2019 “Citation Patterns in Translation Studies: A Format-Dependent Bibliometric Analysis.” Translation and Interpreting 11 (1): 147–171. , p. 148), pois esses autores consideram que as pesquisas dos ETs baseadas em citação não “empregam sistematicamente os métodos estatísticos aceitos, em geral, para a análise de dados bibliográficos”.22. “[…] systematically [employ] generally accepted statistical methods for their analysis of bibliographic data.” Além disso, dividir os ETs em ramos independentes e estudá-los separadamente pode resultar em um retrato simplista que ignora os avanços gerais da área. Ressalta-se, ainda, que os estudos cienciométricos anteriormente implementados nos ETs não têm construído seus argumentos em torno da ideia de mudança nas teorias, aplicações e instrumentações testadas (KUHN, 1970Kuhn, Thomas 1970 The Structure of Scientific Revolutions. 2nd ed. Chicago: University of Chicago Press., p. 42). Nesse contexto, o presente estudo tem o objetivo de identificar tendências de pesquisa nos ETs, com o objetivo de determinar se existem pesquisadores que se reuniram em torno de um tema principal ou ideia central nas pesquisas envolvendo esse campo.
As seguintes perguntas de pesquisa direcionam este estudo:
Quais são as tendências de pesquisa dominantes nos ETs no início do século XXI e o que as caracteriza?
Quais são as publicações e autores mais influentes do universo intelectual dos ETs no início do século XXI?
Para responder a essas perguntas de pesquisa, utilizamos a análise de cocitação de documentos (DCA, em referência a Document Co-citation Analysis) para detectar os clusters 33.N. dos Ts.: Embora o termo cluster possa ser encontrado em dicionários da língua portuguesa (ver https://aulete.com.br/cluster) opta-se, nesta tradução, por seu uso em itálico. Neste artigo, compreende-se cluster como “agrupamento” ou “conjunto”. Quando utilizado na categoria de verbo, isto é, to cluster, adota-se, na tradução, em português, o verbo “agrupar”. de publicações que são tematicamente distintos entre si. Com a DCA, cada cluster é caracterizado por seus membros (publicações), sua coesão (relação) e o(s) tema(s) que o percorre(m) (ARYADOUST; TAN; NG, 2019). Dessa forma, adotando a metodologia de Aryadoust, Tan e Ng (2019)Aryadoust, Vahid, Hannah Ann Hui Tan, and Li Ying Ng 2019 “A Scientometric Review of Rasch Measurement: The Rise and Progress of a Specialty.” Frontiers in Psychology 10: 2197. , elaboramos uma estrutura de base teórica para examinar as características distintas dos principais clusters detectados pela DCA nos ETs.
2.A Cienciometria44.N. dos Ts.: Embora os termos “cienciometria” e “cientometria” sejam utilizados na literatura do campo da Ciência da Informação como sinônimos (PARRA; COUTINHO; PESSANO, 2019), opta-se, nesta tradução, por “cienciometria”, uma vez que o termo já vem sendo utilizado em outras publicações do Grupo GETTEC, Grupo de Estudos e Pesquisa em Tradução, Tecnologias, Ensino e Cienciometria, vinculado à Universidade Federal de Uberlândia, Brasil, do qual fazem parte os tradutores deste artigo. Para mais detalhes, consultar: ESQUEDA, M. D. (org.) Estudos bibliométricos e cienciométricos em Tradução: tendências, métodos e aplicações. Curitiba: Editora CRV, 2020. DOI: 10.24824/978658608789.5ESQUEDA, M. D. (ed.) Bibliometric and scientometric investigations in Translation and Interpreting Studies: numbers from Brazil and other countries. Curitiba: Editora CRV, 2022. DOI: 10.24824/978652512441.4PARRA, M. R.; COUTINHO, R. X.; PESSANO, E. F. C. (2019). Um breve olhar sobre a cienciometria: origem, evolução, tendências e sua contribuição para o ensino de ciências. Revista Contexto & Educação, 34(107), 126–141. https://doi.org/10.21527/2179-1309.2019.107.126-141. nos ETs
A cienciometria, ou o mapeamento da ciência, é um procedimento interdisciplinar que combina a matemática aplicada, a ciência da informação e a ciência da computação para analisar e visualizar, sistematicamente, os domínios do conhecimento (MORRIS; VAN DER VEER MARTENS, 2008Morris, Steven A., and Betsy van der Veer Martens 2008 “Mapping Research Specialties.” Annual Review of Information Science and Technology 42 (1): 213–295. ; CHEN; IBEKWE-SANJUAN; HOU, 2010Chen, Chaomei, Fidelia Ibekwe-SanJuan, and Jianhua Hou 2010 “The Structure and Dynamics of Cocitation Clusters: A Multiple-Perspective Cocitation Analysis.” Journal of the American Society for Information Science and Technology 61 (7): 1386–1409. ). A cienciometria tem sido empregada na identificação das inter-relações globais dos diferentes campos disciplinares (CHEN, 2017 2017 “Science Mapping: A Systematic Review of the Literature.” Journal of Data and Information Science 2 (2): 1–40. , p. 5), assim como na descrição das redes de conhecimento dentro de distintos campos de estudo (CHEN; SONG, 2019Chen, Chaomei, and Min Song 2019 “Visualizing a Field of Research: A Methodology of Systematic Scientometric Reviews.” Plos One 14 (10): e0223994. , p. 2). Um estudo cienciométrico geralmente inclui a literatura de uma área específica de pesquisa, ferramentas cienciométricas e de visualização, assim como métricas e indicadores que evidenciam padrões e tendências (CHEN, 2017 2017 “Science Mapping: A Systematic Review of the Literature.” Journal of Data and Information Science 2 (2): 1–40. ). Entre alguns métodos mais comumente utilizados na cienciometria temos a análise de cocitação, a análise de redes, a análise de palavras-chave e a contagem de publicações (GILE, 2005 2005 “Citation Patterns in the T&I Didactics Literature.” Forum 3 (2): 85–103. ; LI, 2015Li, Xiangdong 2015 “International Visibility of Mainland China Translation Studies Community: A Scientometric Study.” In Rovira-Esteva, Orero, and Aixelá (2015, 183–204). ; LIM; ARYADOUST, 2021Lim, Mei Hui, and Vahid Aryadoust 2021 “A Scientometric Review of Research Trends in Computer-assisted Language Learning Research (1977–2020).” Computer Assisted Language Learning: 1–16. ; ROVIRA-ESTEVA; AIXELA; OLALLA-SOLER, 2019Rovira-Esteva, Sara, Javier Franco Aixelá, and Christian Olalla-Soler 2019 “Citation Patterns in Translation Studies: A Format-Dependent Bibliometric Analysis.” Translation and Interpreting 11 (1): 147–171. ). Garfield (1965Garfield, Eugene 1965 “Can Citation Indexing Be Automated?” In Statistical Association Methods for Mechanised Documentation: Symposium Proceedings, Washington 1964, edited by Mary E. Stevens, Vincent E. Giuliano, and Laurence B. Heilprin, 189–192. Washington: National Bureau of Standards., p. 189) identificou 15 razões para a utilização de citações, afirmando que elas podem ajudar a alertar os leitores sobre trabalhos futuros, autenticar dados e fornecer a correção e a crítica em uma rede de autores. Sociólogos como Zuckerman (1987Zuckerman, Harriet 1987 “Citation Analysis and the Complex Problem of Intellectual Influence.” Scientometrics 12 (5–6): 329–338. , p. 329) consideram as citações como indicadores da “influência intelectual” (intelectual influence) dos autores em um campo de pesquisa, enquanto outros, tais como Latour (1987)Latour, Bruno 1987 Science in Action: How to Follow Scientists and Engineers through Society. Cambridge: Harvard University Press., sugerem que as citações fornecem uma forma efetiva de evocar afiliações que reforçam e fundamentam a própria opinião dos pesquisadores. Em especial, as medições de citação são amplamente adotadas como indicadores-chave de performance para acadêmicos e pesquisadores, exercendo impacto mensurável no “equilíbrio de poder” (balance of power), na medida em que favorecem os autores no momento das solicitações de financiamento para pesquisas, estabilidade acadêmica e de progressão na carreira (DE BELLIS, 2014De Bellis, Nicola 2014 “History and Evolution of (Biblio)Metrics.” In Beyond Bibliometrics: Harnessing Multidimensional Indicators of Scholarly Impact, edited by Blaise Cronin and Cassidy R. Sugimoto, 23–44. Cambridge: MIT Press., p. 39). Essas medições também permitem (a) a mineração e visualização de estruturas latentes de conhecimento em campos de pesquisa e (b) a identificação de clusters de pesquisa tematicamente distintos e da interconexão baseada em cocitação que se estabelece entre eles, o que é relevante para este estudo.
As medições de citação ora descritas são apropriadas para a análise dos ETs, que constituem um campo disciplinar acadêmico bem estabelecido ao se concentrar nos fenômenos, na prática e nas teorias da tradução e da intepretação (PÖCHHACKER, 2009 2009 “Issues in Interpreting Studies.” In Routledge Companion to Translation Studies, edited by Jeremy Munday, 128–150. Abingdon: Routledge.; MUNDAY, 2016Munday, Jeremy 2016 Introducing Translation Studies: Theories and Applications. 4th ed. Abingdon: Routledge. ). Desde o mapeamento inicial dos ETs realizado por Holmes ([1988] 2004)Holmes, James (1988) 2004 “The Name and Nature of Translation Studies.” In The Translation Studies Reader, 2nd ed., edited by Lawrence Venuti, 180–192. Abingdon: Routledge., houve muitos desenvolvimentos e transformações no campo. Munday (2016Munday, Jeremy 2016 Introducing Translation Studies: Theories and Applications. 4th ed. Abingdon: Routledge. , p. 35) ressalta que os ETs “se transformaram em um dos campos mais ativos e dinâmicos de pesquisa multidisciplinar”,55. “[…] has now become one of the most active and dynamic new areas of multidisciplinary research”. e sua expansão é evidente, haja vista o crescente número de programas de formação em ETs no mundo, de publicações, de instrumentos gerais e analíticos, assim como de instituições internacionais e eventos acadêmicos ou profissionais. Se por um lado o comentário de Munday (2016)Munday, Jeremy 2016 Introducing Translation Studies: Theories and Applications. 4th ed. Abingdon: Routledge. se baseia em observações e descrições, outros autores utilizam métodos cienciométricos mais objetivos para descrever e fornecer evidências do desenvolvimento dos ETs e de seus subcampos (GILE, 2000 2000 “The History of Research into Conference Interpreting: A Scientometric Approach.” Target 12 (2): 297–321. , 2015; GRBIĆ; PÖLLABAUER, 2008aGrbić, Nadja, and Sonja Pöllabauer 2008a “Counting What Counts: Research on Community Interpreting in German-Speaking Countries – A Scientometric Study.” Target 20 (2): 297–332. , 2008b 2008b “To Count or Not to Count: Scientometrics as a Methodological Tool for Investigating Research on Translation and Interpreting.” Translation and Interpreting Studies 3 (1/2): 87–146. ; ZANETTIN; SALDANHA; HARDING, 2015Zanettin, Federico, Gabriela Saldanha, and Sue-Ann Harding 2015 “Sketching Landscapes in Translation Studies: A Bibliographic Study.” In Rovira-Esteva, Orero, and Aixelá (2015, 161–182). ; ROVIRA-ESTEVA; FRANCO AIXELÁ; OLALLA-SOLLER, 2019Rovira-Esteva, Sara, Javier Franco Aixelá, and Christian Olalla-Soler 2019 “Citation Patterns in Translation Studies: A Format-Dependent Bibliometric Analysis.” Translation and Interpreting 11 (1): 147–171. ). Um dos métodos de estudo mais comumente adotados tem sido o do cálculo das frequências de línguas adotadas, autores, temas e/ou tipos de texto (ŠAJKEVIČ, 1992Šajkevič, Anatolij J. A. 1992 “Bibliometric Analysis of Index Translationum .” Meta 37 (1): 67–96. ; GRBIĆ, 2007Grbic, Nadja 2007 “Where Do We Come from? What Are We? Where Are We Going? A Biblio-Metrical Analysis of Writing and Research on Sign Language and Interpreting.” The Sign Language Translator and Interpreter 1 (1): 15–51.; ROVIRA-ESTEVA; ORERO, 2011Rovira-Esteva, Sara, and Pilar Orero 2011 “A Contrastive Analysis of the Main Benchmarking Tools for Research Assessment in Translation and Interpreting: The Spanish Approach.” Perspectives 19 (3): 233–251. ). Zanettin, Saldanha e Harding (2015)Zanettin, Federico, Gabriela Saldanha, and Sue-Ann Harding 2015 “Sketching Landscapes in Translation Studies: A Bibliographic Study.” In Rovira-Esteva, Orero, and Aixelá (2015, 161–182). utilizam, por exemplo, um método guiado por corpus para investigar a maneira como a orientação de pesquisa dos ETs mudou e como seus subcampos principais foram definidos ao longo dos anos. Eles utilizam o Translation Studies Abstracts (TSA),66. The publisher St. Jerome launched Translation Studies Abstracts (TSA; https://www.stjerome.co.uk/tsa/; defunct) in print form in 1988 and it was merged with John Benjamins’s Translation Studies Bibliography (TSB) in 2015. It now can be accessed at https://benjamins.com/online/tsb/. (Em 1988, a editora St. Jerome lançou o Translation Studies Abstracts (TSA; https://www.stjerome.co.uk/tsa/; extinto) em formato impresso, o qual foi fundido com a Translation Studies Bibliography (TSB) da John Benjamins, em 2015. Atualmente,, ele pode ser acessado em https://benjamins.com/online/tsb/.) uma coleção de resumos de artigos de revistas, capítulos de livro e teses de doutorado do campo dos ETs, de 2003 a 2009, para gerar os resultados, incluindo palavras-chave e categorias ao longo do tempo. Os pesquisadores identificam a influência dos corpora linguísticos e da pesquisa orientada à cultura nos ETs naquele período, ao passo que as pesquisas sobre a tradução literária e a tradução religiosa estavam em declínio.
A análise de citações, que é um método cienciométrico, também tem sido utilizada para explorar tendências de desenvolvimento em diferentes subcampos dos ETs (GILE, 2000 2000 “The History of Research into Conference Interpreting: A Scientometric Approach.” Target 12 (2): 297–321. , 2005 2005 “Citation Patterns in the T&I Didactics Literature.” Forum 3 (2): 85–103. ; ALBRES; DE LACERDA, 2013Albres, Neiva Aquino, and Cristina Broglia Feitosa de Lacerda 2013 “Interpretação educacional como campo de pesquisa: Estudo bibliométrico de publicações internacionais e suas marcas no campo nacional [Educational interpreting as a research field: Bibliometric study of international publications and their brands in the national field].” Cadernos de Tradução 1 (31): 179–204. ; LI, 2015Li, Xiangdong 2015 “International Visibility of Mainland China Translation Studies Community: A Scientometric Study.” In Rovira-Esteva, Orero, and Aixelá (2015, 183–204). ). Gile (2000) 2000 “The History of Research into Conference Interpreting: A Scientometric Approach.” Target 12 (2): 297–321. utiliza a abordagem cienciométrica para conduzir uma análise quantitativa dos estudos sobre a interpretação de conferências. A análise revela que, embora o número total de autores que pesquisam no campo dos ETs tenha aumentado ao longo do tempo, a maior parte deles não sustentou sua produtividade a longo prazo. Além disso, apenas uma pequena parcela das pesquisas publicadas foi composta de estudos empíricos, embora eles fizessem parte da maioria das teses de doutorado submetidas como requisito para a obtenção de titulação acadêmica. Utilizando um método cienciométrico similar, Gile (2005) 2005 “Citation Patterns in the T&I Didactics Literature.” Forum 3 (2): 85–103. analisa 47 artigos sobre a formação de tradutores e intérpretes, revelando que (a) as publicações mais citadas foram escritas em inglês; (b) os textos mais citados foram livros introdutórios sobre os ETs, em vez de artigos publicados em revistas; e que (c) houve um número de citações muito menor de artigos de revistas quando comparado a capítulos de livros em volumes especiais. Gile (2005 2005 “Citation Patterns in the T&I Didactics Literature.” Forum 3 (2): 85–103. , p. 100) afirma, portanto, que os estudos centrados em departamentos de Artes Liberais (Liberal Arts) são mais propensos a serem citados do que os estudos empíricos na área dos ETs, uma observação que necessita de mais investigação. É interessante notar que Grbić e Pöllabauer (2008c) 2008c “An Author-Centred Scientometric Analysis of Daniel Gile’s Œuvre.” In Efforts and Models in Interpreting and Translation Research: A Tribute to Daniel Gile, edited by Gyde Hansen, Andrew Chesterman, and Heidrun Gerzymisch-Arbogast, 3–24. Amsterdam: John Benjamins. realizam uma análise de citação centrada em autores a partir dos trabalhos de Gile e encontram evidências que ratificam a contribuição e a influência desse mesmo autor na comunidade de pesquisa dos ETs.
Esses trabalhos revelaram os avanços históricos e as tendências emergentes nos ETs, o que é importante para a compreensão desse campo. No entanto, a análise tradicional de cocitação se concentra principalmente nos clusters de cocitação em si, e não nas informações dos artigos citados, muito embora o estudo dos artigos citados em cada cluster de cocitação possa ajudar a revelar a dinâmica de sua especialidade (SCHNEIDER, 2009 2009 “Mapping of Cross-Reference Activity Between Journals by Use of Multidimensional Unfolding: Implications for Mapping Studies.” In Proceedings of ISSI 2009 – the 12th International Conference on Scientometrics and Informetrics, edited by Birger Larsen and Jacqueline Leta, 443–454. Rio de Janiero: BIREME/PAHO/WHO and Federal University of Rio de Janeiro.; CHEN; IBEKWE-SANJUAN; HOU, 2010Chen, Chaomei, Fidelia Ibekwe-SanJuan, and Jianhua Hou 2010 “The Structure and Dynamics of Cocitation Clusters: A Multiple-Perspective Cocitation Analysis.” Journal of the American Society for Information Science and Technology 61 (7): 1386–1409. , p. 1390). Além disso, devido à rápida evolução dos ETs no início do século XXI, são necessários mais estudos objetivos e abrangentes utilizando ferramentas científicas avançadas para identificar mudanças nas pesquisas dos ETs ao mesmo tempo em que esse campo disciplinar avança.
Utilizando a técnica de DCA, nosso estudo pretende fornecer um panorama quantitativo dos ETs do início do século XXI. Este estudo contribuirá para o entendimento desse campo disciplinar através da identificação de seus maiores domínios de conhecimento, além de detectar as tendências de pesquisa e publicações de impacto. A seção a seguir discorre sobre a fonte de dados e o método de análise, fornecendo uma introdução à técnica de DCA.
3.Metodologia
3.1Fonte de dados
Nós analisamos as 15 revistas dos ETs indexadas nas bases de dados do Social Sciences Citation Index ou Arts & Humanities Citation Index, da coleção Web of Science Core (ver Tabela 1; disponível em: https://clarivate.com/webofsciencegroup/solutions/web-of-science-core-collection/). A Web of Science é uma das poucas bases de dados que fornece um conjunto de dados “atualizado, que pode ser usado a qualquer momento em qualquer programa de computador ao qual esteja vinculado e que pode ser consultado a qualquer momento de acordo com diferentes critérios”77. “[…] updated, used at any time by any computer program which it is connected to, and operated at all times according to different criteria”. (LUQUE MARTÍNEZ, 1995Luque Martínez, Teodoro 1995 “Líneas de investigación y bases de datos para la investigación [Lines of research and databases for research].” Investigaciones Europeas de Dirección y Economía de la Empresa [European Research on Business Management and Economics] 1 (2): 35–50., apud SÁNCHEZ; DEL RÍO; GARCÍA, 2017Sánchez, Amador Durán, María de la Cruz Del Río Rama, and José Álvarez García 2017 “Bibliometric Analysis of Publications on Wine Tourism in the Databases Scopus and WoS.” European Research on Management and Business Economics 23 (1): 8–15. , p. 8). Dessa forma, considera-se que os dados recuperados da Web of Science cumprem, geralmente, os requisitos para os estudos cienciométricos (CHEN; IBEKWE-SANJUAN; HOU, 2010Chen, Chaomei, Fidelia Ibekwe-SanJuan, and Jianhua Hou 2010 “The Structure and Dynamics of Cocitation Clusters: A Multiple-Perspective Cocitation Analysis.” Journal of the American Society for Information Science and Technology 61 (7): 1386–1409. , p. 1389; SÁNCHEZ; DEL RÍO; GARCÍA, 2017Sánchez, Amador Durán, María de la Cruz Del Río Rama, and José Álvarez García 2017 “Bibliometric Analysis of Publications on Wine Tourism in the Databases Scopus and WoS.” European Research on Management and Business Economics 23 (1): 8–15. , p. 8). No entanto, reconhecemos que a Web of Science e outras bases de dados gerais (como a Scopus) têm sido criticadas por alguns pesquisadores, os quais afirmam que elas não representam de forma adequada os campos das Humanidades e das Ciências Sociais (MONGEON; PAUL-HUS, 2016Mongeon, Philippe, and Adèle Paul-Hus 2016 “The Journal Coverage of Web of Science and Scopus: A Comparative Analysis.” Scientometrics 106 (1): 213–228. ). As razões para essa sub-representação são vastas e variadas, incluindo, principalmente, a qualidade das publicações e a falta de consistência entre as publicações e as exigências da Web of Science. Dado que nosso objetivo não é o de realizar uma comparação interdisciplinar, essa sub-representação dos campos das Humanidades e Ciências Sociais não representa um enviesamento da análise.
Os dados utilizados incluem 6.007 artigos publicados em revistas e 99.178 referências publicadas entre janeiro de 2001 e dezembro de 2020. A Tabela 1 apresenta o número de artigos publicados no século XXI (2001–2020) indexados na Web of Science, o fator de impacto da revista em 2019 (o valor mais recente no momento da escrita deste trabalho), o fator de impacto de cinco anos da revista e o índice da plataforma Scimago Journal & Country Rank. Tanto os índices de fator de impacto de 2019 das revistas Meta: Translator’s Journal e Translation Review quanto os índices de fator de impacto dos últimos cinco anos da revista The Journal of Specialised Translation estavam indisponíveis no momento da elaboração deste trabalho.
3.2Análise dos dados
3.2.1A construção de redes de DCA
Existem dois métodos principais de análise por cocitação para determinar a estrutura intelectual dos campos de pesquisa: a Análise de Cocitação de Autores (ACA, em referência a Author Co-citation Analysis) (WHITE; GRIFFITH, 1981White, Howard D., and Belver C. Griffith 1981 “Author Cocitation: A Literature Measure of Intellectual Structure.” Journal of the American Society for Information Science 32 (3): 163–171. ; WHITE; MCCAIN, 1998White, Howard D., and Katherine W. McCain 1998 “Visualizing a Discipline: An Author Co-Citation Analysis of Information Science, 1972–1995.” Journal of the American Society for Information Science 49 (4): 327–355.; CHEN; IBEKWE-SANJUAN; HOU, 2010Chen, Chaomei, Fidelia Ibekwe-SanJuan, and Jianhua Hou 2010 “The Structure and Dynamics of Cocitation Clusters: A Multiple-Perspective Cocitation Analysis.” Journal of the American Society for Information Science and Technology 61 (7): 1386–1409. ); e a DCA (SMALL, 1980Small, Henry 1980 “Co-citation Context Analysis and the Structure of Paradigms.” Journal of Documentation 36 (3): 183–196. , 2003 2003 “Paradigms, Citations, and Maps of Science: A Personal History.” Journal of the American Society for Information Science and Technology 54 (5): 394–399. ; SCHNEIDER, 2006Schneider, Jesper W. 2006 “Concept Symbols Revisited: Naming Clusters by Parsing and Filtering of Noun Phrases from Citation Contexts of Concept Symbols.” Scientometrics 68 (3): 573–593. ). A ACA é utilizada para agrupar (to cluster) autores que são cocitados na literatura, ao passo que a DCA é usada para identificar clusters de publicações que formam, possivelmente, comunidades intelectuais especializadas, as quais são, com frequência, ignoradas nas tradicionais revisões de literatura (WHITE; MCCAIN, 1998White, Howard D., and Katherine W. McCain 1998 “Visualizing a Discipline: An Author Co-Citation Analysis of Information Science, 1972–1995.” Journal of the American Society for Information Science 49 (4): 327–355.).
Título da revista | No. de artigos | Fator de impacto da revista (JIF) | Fator de impacto da revista (5 anos) | Índice da plataforma Scimago Journal & Country Rank (SJR) |
---|---|---|---|---|
Across Languages and Cultures | 208 | 0,36 | 0,5 | 0,65 |
Babel: International Journal of Translation | 421 | 0,13 | 0,292 | 0,3 |
Interpreting: International Journal of Research and Practice in Interpreting | 209 | 0,571 | 0,804 | 0,27 |
Linguistica Antverpiensia, New Series – Themes in Translation | 193 | 0,5 | 0,833 | 0,16 |
Meta: Translator’s journal | 1300 | NA | NA | 0,23 |
Multilingua | 36 | 0,815 | 1,081 | 0,65 |
Perspectives: Studies in Translatology | 439 | 0,654 | 1,143 | 0,47 |
Target: International Journal of Translation Studies | 444 | 0,485 | 0,886 | 0,64 |
Terminology | 48 | 1,286 | 0,86 | 0,18 |
The Journal of Specialised Translation | 480 | 0,792 | NA | 0,65 |
The Interpreter and Translator Trainer | 329 | 0,881 | 1,333 | 0,87 |
The Translator: Studies in Intercultural Communication | 483 | 0,565 | 0,827 | 0,37 |
Translation and Interpreting Studies | 226 | 0,644 | 0,692 | 0,23 |
Translation Review | 713 | NA | NA | 0,11 |
Translation Studies | 478 | 0,947 | 1,076 | 0,27 |
Observação: JIF: Journal Impact Factor (Fator de Impacto da Revista); SJR: Scimago Journal & Country Rank (Índice da plataforma Scimago Journal & Country Rank)
A DCA foi aplicada, no presente estudo, com base em citações que ocorreram quando duas publicações citam uma terceira (SMALL, 1980Small, Henry 1980 “Co-citation Context Analysis and the Structure of Paradigms.” Journal of Documentation 36 (3): 183–196. ). Nessa técnica, a associação de publicações cocitadas em um conjunto de dados pode auxiliar na identificação de temas de pesquisa e especialidades em domínios científicos. Quanto mais itens cocitados existirem entre duas publicações, maior a sua força de cocitação (co-citation strength) e mais forte a sua possível conexão temática (CHEN; IBEKWE-SANJUAN; HOU, 2010Chen, Chaomei, Fidelia Ibekwe-SanJuan, and Jianhua Hou 2010 “The Structure and Dynamics of Cocitation Clusters: A Multiple-Perspective Cocitation Analysis.” Journal of the American Society for Information Science and Technology 61 (7): 1386–1409. ). Essa técnica de cocitação nos permitiu examinar o surgimento e o avanço de domínios especializados através da mineração de dados extraídos de bases de dados de grande escala (ARYADOUST, 2020Aryadoust, Vahid 2020 “A Review of Comprehension Subskills: A Scientometrics Perspective.” System 88: 102180. ).
Nós utilizamos o software CiteSpace, na versão 5.6.R5 (CHEN, 2016 2016 CiteSpace: A Practical Guide for Mapping Scientific Literature. Oxford: Nova Science Publishers.), para criar a rede de DCA e visualizar os resultados. Os dados foram descarregados da Web of Science e inseridos no CiteSpace para análise. O conjunto de dados incluiu registros bibliográficos compostos por títulos de publicações, palavras-chave, resumos, nomes de autores e referências. Uma técnica de fatiamento de tempo foi aplicada para atribuir valor 1 para “Anos por Fatia” (em referência a Years Per Slice), de forma que o número de redes fosse o mesmo que o número de anos no período de 2001 a 2020.
Em seguida, conduzimos um procedimento de seleção de nós através da geração de múltiplas redes, a partir da configuração de diferentes parâmetros nas propriedades, incluindo LBY (Look Back Years) e LRF (Linking Retaining Factor), assim como critérios de seleção como índice g, Top N e Top N% (CHEN; DUBIN; SCHULTZ, 2014Chen, Chaomei, Rachael Dubin, and Timothy Schultz 2014 “Science Mapping.” In Encyclopedia of Information Science and Technology, 3rd ed., edited by Mehdi Khosrow-Pour, vol. 6: 4171–4184. Hershey: IGI Global. ). O LBY controla o número de anos entre as datas de publicação da referência que cita e da que é citada. Um valor 8 significa, por exemplo, que serão consideradas apenas as citações feitas para as referências citadas dentro dos últimos oito anos. O LRF gerencia os fatores a serem retidos para cada nó da rede. A título de exemplo, um valor 3 indica que todos os links para o nó acima dos três mais fortes serão ignorados. Na forma mais atualizada do CiteSpace, as configurações padronizadas de LBY e LRF são, respectivamente, 8 e 3.
Sobre os critérios de seleção, o índice g é o número máximo (g) de artigos que juntos receberam um número de citações igual ou superior a g ao quadrado (EGGHE, 2006Egghe, Leo 2006 “Theory and Practise of the g-Index.” Scientometrics 69 (1): 131–152. ). Esse índice é especialmente sensível ao número de citações que as publicações mais influentes de um autor receberam. Dessa forma, o índice g faz com que a influência de autores em seus campos disciplinares seja mais perceptível. No CiteSpace, o fator de escala k pode ajustar o tamanho geral da rede de maneira flexível. O valor padrão de k (25) foi utilizado neste estudo. O Top N por fatia, no qual o valor de N representa o número de itens mais citados ou mais frequentes, também foi utilizado para construir a rede. Já o Top N% representa o percentual de itens mais citados ou mais frequentes por fatia. Top N e Top N% foram definidos nos valores padrão de, respectivamente, 50 e 10%.
3.2.2Comparação de redes
No total, geramos 12 redes e comparamos suas características para selecionarmos a ideal. Como proposto por Chen e Song (2019)Chen, Chaomei, and Min Song 2019 “Visualizing a Field of Research: A Methodology of Systematic Scientometric Reviews.” Plos One 14 (10): e0223994. , geramos uma rede inicial utilizando os parâmetros padronizados: LBY = 8; LRF = 3 e índice g (k = 25), assim como mencionamos antes. Essa rede estava composta por vários clusters de pesquisa, cada um formado por nós (publicações) e seus links. Para rotular os clusters, utilizamos o método de verossimilhança logarítmica (log-likelihood ratio method), um algoritmo baseado no índice de probabilidade para determinar as palavras e frases que mais provavelmente representam um cluster. Em comparação com outras abordagens de rotulagem temática, tal como a indexação semântica latente, a razão de verossimilhança logarítmica tende a ter uma confiabilidade maior para detectar temas únicos, ao passo que a indexação semântica latente tende a encontrar temas comuns (CHEN; SONG, 2019Chen, Chaomei, and Min Song 2019 “Visualizing a Field of Research: A Methodology of Systematic Scientometric Reviews.” Plos One 14 (10): e0223994. ). Em seguida, geramos outra rede cujos valores LBY e LRF foram fixados em -1, removendo, dessa forma, todos os limites desses dois parâmetros. Os passos foram repetidos com o índice g, cujo valor foi alterado para k = 50, com o intuito de gerar mais duas redes. Geramos, então, quatro outras redes com as configurações Top 50, Top 100, Top 50% e Top 100%. Considerando que este estudo buscou identificar tanto as tendências dominantes na área dos ETs quanto as publicações e autores mais influentes, optamos por examinar redes que incluíssem mais de seis clusters principais e um grande número de publicações por cluster.
Nós também examinamos vários aspectos das redes de cocitação através das métricas propostas, com o intuito de verificarmos a robustez das redes, especialmente as métricas temporais (isto é, a explosão de citações, em referência a citation burstness), métricas estruturais (isto é, centralidade de intermediação, modularidade (Q) e coeficiente de silhueta, em referência a betweenness centrality, modularity Q e silhouette score), e as métricas combinadas (isto é, sigma; CHEN; IBEKWE-SANJUAN; HOU, 2010Chen, Chaomei, Fidelia Ibekwe-SanJuan, and Jianhua Hou 2010 “The Structure and Dynamics of Cocitation Clusters: A Multiple-Perspective Cocitation Analysis.” Journal of the American Society for Information Science and Technology 61 (7): 1386–1409. ). A explosão88.N. dos Ts.: O termo burstness foi traduzido como “explosão”, mas também pode ser compreendido como “aumento repentino”, “aumento intenso” ou “pico” de citações ou cocitações de determinadas publicações. de citações quantifica aumentos repentinos em cocitações de uma publicação (CHEN; DUBIN; SCHULTZ, 2014Chen, Chaomei, Rachael Dubin, and Timothy Schultz 2014 “Science Mapping.” In Encyclopedia of Information Science and Technology, 3rd ed., edited by Mehdi Khosrow-Pour, vol. 6: 4171–4184. Hershey: IGI Global. ). Quando um tópico surge em um fluxo de publicação, ele é sinalizado como uma explosão de atividade (KLEINBERG, 2003Kleinberg, Jon 2003 “Bursty and Hierarchical Structure in Streams.” Data Mining and Knowledge Discovery 7 (4): 373–397. ). Em outras palavras, quando publicações são frequentemente citadas durante um certo período, elas são marcadas como explosões na literatura. Já a centralidade de intermediação, uma métrica que mede a importância de um nó (como uma publicação), representa o número de vezes em que uma publicação faz parte do caminho mais curto de conexão com outras publicações na rede. É, portanto, utilizada para medir o quanto um nó influencia outros nós através do controle do fluxo de informação entre eles (FREEMAN, 1977Freeman, Linton C. 1977 “A Set of Measures of Centrality Based on Betweenness.” Sociometry 40 (1): 35–41. ; BRANDES, 2001Brandes, Ulrik 2001 “A Faster Algorithm for Betweenness Centrality.” The Journal of Mathematical Sociology 25 (2): 163–177. ). Como a centralidade de intermediação é calculada a partir da macroestrutura da rede, ela é considerada um melhor indicador para a influência de longo prazo de uma publicação (SHIBATA; KAJIKAWA; MATSUSHIMA, 2007Shibata, Naoki, Yuya Kajikawa, and Katsumori Matsushima 2007 “Topological Analysis of Citation Networks to Discover the Future Core Articles.” Journal of the American Society for Information Science and Technology 58 (6): 872–882. ). Em uma rede de cocitação, um valor alto para a centralidade de intermediação fornece, então, uma previsão aproximada de citações futuras, sugerindo que os artigos próximos ao centro provavelmente continuarão a ser citados em pesquisas científicas futuras. Ao contrário disso, as publicações que conectam clusters de pesquisa fora das conexões centrais geralmente ganham mais citações ao longo do tempo, apesar de receberem menos citações em seus primeiros anos após serem publicadas. Dessa forma, de acordo com Leysdesdorff (2007), a centralidade de intermediação pode ser utilizada como um indicador da interdisciplinaridade das publicações e revistas, assim como para examinar o nível de proximidade entre os novos desenvolvimentos e as fronteiras dos campos disciplinares.
A métrica sigma (Σ) é uma aproximação que mede o quanto uma publicação científica é inovadora. A sigma é calculada a partir da fórmula (centralidade de intermediação+1) burstness (explosão) (CHEN; IBEKWE-SANJUAN; HOU, 2010Chen, Chaomei, Fidelia Ibekwe-SanJuan, and Jianhua Hou 2010 “The Structure and Dynamics of Cocitation Clusters: A Multiple-Perspective Cocitation Analysis.” Journal of the American Society for Information Science and Technology 61 (7): 1386–1409. ) e é, portanto, uma combinação de métricas temporais e estruturais. Uma métrica sigma elevada indica uma maior probabilidade de que uma publicação introduza conceitos e/ou métodos novos (ibid.). No estudo de Chen, Ibekwe-SanJuan e Hou (ibid.) foi apontado que a centralidade de intermediação e a explosão de citações são métricas fortemente relacionadas a descobertas científicas transformadoras, como aquelas responsáveis pela conquista do Prêmio Nobel. A métrica modularidade (Q) é outro índice usado para medir até que ponto uma rede pode ser dividida em clusters díspares ou blocos independentes (NEWMAN, 2006Newman, Mark. E. J. 2006 “Modularity and Community Structure in Networks.” Proceedings of the National Academy of Sciences 103 (23): 8577–8582. ). Os valores de modularidade variam de 0 a 1, com valores baixos indicando que uma rede não pode ser ramificada em clusters separados, embora valores altos sugiram que uma rede possa conter clusters tematicamente distintos (CHEN; SONG, 2019Chen, Chaomei, and Min Song 2019 “Visualizing a Field of Research: A Methodology of Systematic Scientometric Reviews.” Plos One 14 (10): e0223994. ). Por fim, o índice de silhueta (ROUSSEEUW, 1987Rousseeuw, Peter J. 1987 “Silhouettes: A Graphical Aid to the Interpretation and Validation of Cluster Analysis.” Journal of Computational and Applied Mathematics 20: 53–65. ), cujo valor varia de -1 a 1, indica o nível de certeza em uma rede ao se interpretar a natureza de um cluster. Um valor 1, por exemplo, representa uma perfeita separação entre clusters, enquanto valores negativos indicam uma separação fraca ou implausível (ibid.). De acordo com Chen, Ibekwe-SanJuan e Hou (2010), é desejável, em uma análise, que o índice de silhueta tenha valores de 0,7 a 0,9 ou mais.
Depois de selecionar a rede apropriada, geramos uma visualização de linha do tempo para identificar as tendências dominantes no campo e calculamos a força de explosão, a duração (o período em que as publicações gozaram de popularidade, assim como suas quantificações por sua força), o sigma e a centralidade de intermediação por nó para identificar as publicações mais influentes nos ETs.
3.2.3Análise dos Clusters
Com base no estudo da DCA de Aryadoust, Tan e Ng (2019)Aryadoust, Vahid, Hannah Ann Hui Tan, and Li Ying Ng 2019 “A Scientometric Review of Rasch Measurement: The Rise and Progress of a Specialty.” Frontiers in Psychology 10: 2197. , os principais clusters na rede selecionada foram escolhidos para análise post hoc para confirmar o tema recorrente de cada cluster e extrair informações relevantes. Essa análise de clusters visa fornecer informações bibliográficas básicas, objetivos de pesquisa e modelos com categorias de objetos de estudo apresentados em publicações anteriores.
Primeiramente, foram registradas as informações bibliográficas de cada artigo, incluindo os autores, ano de publicação e a revista em que o artigo foi publicado. Em seguida, o tema de pesquisa ou objetivo principal de cada artigo foi analisado por meio da digitalização do resumo e das palavras-chave. Quando o resumo e as palavras-chave eram insuficientes para identificar os principais tópicos de pesquisa, o artigo inteiro era lido. Essa etapa foi usada para confirmar a adequação dos rótulos de verossimilhança logarítmica gerados automaticamente para cada cluster e para determinar seus temas.
Além disso, examinamos qualitativamente os diferentes objetos de estudo dos artigos. Quatro categorias foram usadas para classificar os objetos de estudo: orientados ao produto (análise de tradução de textos escritos ou orais), orientados ao processo (análise dos processos cognitivos mobilizados durante a tradução), orientados ao participante (investigação dos indivíduos envolvidos no processo de tradução) e orientados ao contexto (análise dos fatores externos e circunstâncias da tradução). Ao usar essa estrutura (baseada em SALDANHA; O’BRIEN, 2013Saldanha, Gabriela, and Sharon O’Brien 2013 Research Methodologies in Translation Studies. Manchester: St. Jerome.), estamos cientes de que a categorização “não é determinada pela metodologia em si ou pela fonte de dados, mas pelos objetivos finais do pesquisador”99. “[…] not determined by the methodology itself or even the source of data but by the ultimate aims of the researcher. (p. 5) e que as categorias inevitavelmente se sobrepõem. Para o propósito deste estudo, a codificação das categorias é baseada no objeto de estudo ou no objetivo da pesquisa. Embora uma análise aprofundada de cada cluster esteja fora do escopo do presente estudo, esta estrutura de análise de conteúdo fornece informações úteis para diferenciar os principais clusters.
4.Resultados
4.1Comparações de redes
Conforme antes descrito, geramos e comparamos 12 redes por meio da inspeção da modularidade (Q) e do coeficiente de silhueta em cada cluster. A qualidade dos principais clusters em cada rede também foi considerada juntamente com os coeficientes médios das silhuetas e os tamanhos dos clusters (consulte o Apêndice 1 para obter detalhes). Entre as redes geradas, a rede com LBY=−1, LRF=−1 e Top 50 teve o maior coeficiente de silhueta (0,5491). Três redes com LBY= 8 e LRF= 3, mas com critérios de seleção de Top 100, Top 50% e Top 100% respectivamente, tiveram o maior valor de modularidade (Q): 0,7962, indicando uma estrutura muito clara nos clusters (GUSTAFSSON; HÖRNQUIST; LOMBARDI, 2006Gustafsson, Mika, Michael Hörnquist, and Anna Lombardi 2006 “Comparison and Validation of Community Structures in Complex Networks.” Physica A: Statistical Mechanics and its Applications 367: 559–576. ). A comparação de rede foi realizada usando essas três redes com o maior valor de modularidade (Q). Dado que essas três redes de referência tinham o mesmo coeficiente médio de silhueta de todos os clusters, calculamos o coeficiente médio de silhueta dos principais clusters em cada rede, o que levou à descoberta de uma rede com LBY= 8, LRF= 3 e Top 100%, cujo coeficiente de silhueta era o mais alto (0,7985). Em outras palavras, esses clusters principais nessa rede são de boa qualidade em seu agrupamento e, portanto, constituem o foco de nossa discussão.
Por fim, uma exploração mais aprofundada do número de trabalhos que citam outros trabalhos em cada cluster da rede com LBY= 8, LRF= 3 e Top 100% mostrou que todos os dez principais clusters incluíram mais de 60 publicações, consolidando a robustez do uso da modularidade (Q) em identificar a rede, uma vez que a modularidade (Q) é eficaz na detecção de comunidades comparativamente grandes (FORTUNATO; BARTHÉLEMY, 2007Fortunato, Santo, and Marc Barthélemy 2007 “Resolution Limit in Community Detection.” Proceedings of the National Academy of Sciences 104 (1): 36–41. , p. 36).
4.2Visualização da linha do tempo dos clusters
Para responder à primeira pergunta de pesquisa, a visualização da linha do tempo dos dez principais clusters é apresentada na Figura 1. Os dez clusters na rede selecionada foram tematizados da seguinte forma: #0 competência em tradução, #1 tradução em zonas de conflito, #2 formação de tradutores, # 3 tradução colaborativa, #4 tradução e sociedade, #5 política linguística, #6 pós-edição e revisão, #7 tradução de mídia, #8 profissionalização em tradução e #9 localização de websites.
Na Figura 1, a evolução de cada cluster ao longo do tempo é mostrada horizontalmente, da esquerda para a direita, com seu rótulo no lado direito. O ano de publicação é exibido na parte superior. A título de exemplo, o cluster #0 competência em tradução, o maior cluster, manteve sua influência de 1995 a 2017, mas começou a perder sua influência gradativamente nos anos mais recentes. Deve-se notar que, embora nossa investigação tenha se concentrado nas tendências de evolução no início do século XXI, as publicações citadas nos artigos datam de anos anteriores. O eixo vertical é baseado no tamanho desses clusters, que é determinado pelo número de artigos citados (referências) em um cluster específico (CHEN; IBEKWE-SANJUAN; HOU, 2010Chen, Chaomei, Fidelia Ibekwe-SanJuan, and Jianhua Hou 2010 “The Structure and Dynamics of Cocitation Clusters: A Multiple-Perspective Cocitation Analysis.” Journal of the American Society for Information Science and Technology 61 (7): 1386–1409. , p. 1.396): quanto mais documentos citados houver, maior é a subcomunidade de conhecimento de domínio. Os maiores clusters são mostrados na parte superior da figura e são representados como #0 competência em tradução, #1 tradução em zonas de conflito e #2 formação de tradutores. Além disso, cada círculo representa um artigo citado, cujo tamanho é proporcional ao número de vezes que o artigo foi citado. As curvas coloridas mostram os links de cocitação, ao passo que o tamanho dos nós mostra a relevância das explosões, ou as publicações de referência mais importantes (LIU; HU, 2021Liu, Yanhua, and Guangwei Hu 2021 “Mapping the Field of English for Specific Purposes (1980–2018): A Co-Citation Analysis.” English for Specific Purposes 61: 97–116. ). Dessa forma, a visualização da linha do tempo fornece uma indicação da relevância dos clusters e suas tendências de evolução ao longo dos anos.