Tradução
Repensar a qualidade da tradução: A revisão na era digital [Rethinking translation quality: Revision in the digital age]

Christopher D. Mellinger
Traduzido por Isabel Gouveia sob a supervisão de Jorge Almeida e Pinho
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Resumo

A edição e a revisão são regularmente incorporadas em projetos de tradução profissional como formas de garantia da qualidade. A decisão de as incluir nos fluxos de trabalho de tradução deriva de determinados pressupostos sobre o que define a qualidade da tradução. Este artigo aborda o modo como a qualidade se reflete na edição e na revisão, a partir daqueles pressupostos. O argumento apresentado sugere a incorporação da revisão nos modelos de avaliação da qualidade da tradução e utiliza os conceitos de adequação, cognição distribuída e saliência – e o seu tratamento na investigação sobre processos cognitivos de tradução, pós-edição e tecnologia de tradução – com o objetivo de repensar a qualidade da tradução.

Palavras-chave:
Índice

1.Introdução

As tarefas de edição e de revisão fazem frequentemente parte do tradicional ciclo de vida dos documentos. A sua importância é sublinhada pelas especificações da indústria para serviços de tradução humana (por exemplo, ASTM 2575; ISO 17100) que determinam que a edição e a revisão sejam incluídas no fluxo de trabalho de tradução como garantia de qualidade. Os fornecedores de serviços linguísticos adotam normalmente o fluxo de trabalho linear tradicional, no qual um revisor ou editor revê o trabalho do tradutor, num esforço para detetar e corrigir erros no projeto de texto de chegada (por exemplo, Mossop 2014Mossop, Brian 2014Revising and Editing for Translators. 3rd ed. New York: Routledge.Google Scholar; Lee 2006Lee, Hyang 2006 “Révision: Définitions et paramètres.” Meta 51 (2): 410–419. DOI logoGoogle Scholar). Uma abordagem semelhante é utilizada nas grandes organizações internacionais, tais como a Organização das Nações Unidas. A classificação em três níveis de tradutores, revisores e autorrevisores destaca a revisão como uma maneira de identificar falhas nos textos traduzidos, a corrigir por um colega mais experiente (Orellana 1990Orellana, Marina 1990La traducción del inglés al castellano. Santiago: Editorial Universitaria.Google Scholar).11.Práticas de revisão semelhantes são observadas na União Europeia, particularmente no que diz respeito à legislação multilingue (Wagner, Bech e Martínez 2002Wagner, Emma, Svend Bech, and Jesús M. Martínez 2002Translating for the European Union Institutions. Manchester: St. Jerome.Google Scholar). Os processos de revisão são por vezes levados a cabo por colegas de níveis superiores. Noutros casos, advogados ou juristas-linguistas executam esta tarefa, para além de outras tarefas de redação e de cariz linguístico que estão fora do âmbito do fluxo de trabalho tradicional de tradução (Šarčević and Robertson 2015Šarčević, Susan, and Colin Robertson 2015 “The Work of Lawyer-Linguists in the EU Institutions.” In Legal Translation in Context: Professional Issues and Prospects, edited by Anabel Borja Albi and Fernando Prieto Ramos, 181–202. Bern: Peter Lang.Google Scholar). Esta abordagem surge como demonstrativa do domínio e utilização de conhecimentos de tradução (Hine 2003Hine Jr., Jonathan T. 2003 “Teaching Text Revision in a Multilingual Environment.” In Beyond the Ivory Tower: Rethinking Translation Pedagogy, edited by Brian J. Baer and Geoffrey S. Koby, 135–156. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar; ver também Horguelin e Brunette 1998Horguelin, Paul A., and Louise Brunnette 1998Pratique de la révision. Montreal: Linguatech.Google Scholar).

Do mesmo modo, os projetos que incorporam tradução automática podem incluir a edição em várias fases e em diferentes graus, sob a forma de pré- e pós-edição, a fim de otimizar a produção da tradução (Spalink, Levy e Merrill 1997Spalink, Karin, Rachel Levy, and Carla Merrill 1997The Level Edit ™ Post-Editing Process: A Tutorial for Post-Editors of Machine Translation Output. Internationalization and Translation Services.Google Scholar; TAUS 2010TAUS 2010 “Machine Translation Post-Editing Guidelines.” Accessed October 26, 2017. https://​info​.taus​.net​/mt​-post​-editing​-guidelines). Os editores podem rever textos originais para remover características linguísticas específicas que se possam revelar problemáticas em sistemas de tradução automática, frequentemente denominadas “indicadores negativos de tradução” ou INTs (“negative translability indicators”, ou NTIs, segundo Underwood e Jongejan 2001Underwood, Nancy L., and Bart Jongejan 2001 “Translatability Checker: A Tool to Help Decide Whether to Use MT.” Proceedings of MT Summit VIII: Machine Translation in the Information Age, edited by Bente Maegaard, 363–368. Santiago de Compostela.Google Scholar). Por outro lado, os pós-editores trabalham com o texto de chegada, traduzido automaticamente, para “limpar” os erros de origem ou aqueles que foram introduzidos pelo sistema de tradução automática. O nível a que estes editores corrigem os textos pode variar, desde uma revisão superficial de erros gramaticais e ortográficos até uma comparação completa dos textos de partida e de chegada com revisões do estilo, escolhas terminológicas, ou lógicas.

Tanto nos textos produzidos por seres humanos como por máquinas, os revisores e os editores são considerados o bastião da qualidade; a edição e/ou a revisão fazem necessariamente parte do processo de tradução e garantem, tanto para o fornecedor de serviços linguísticos como para o cliente, a concretização de um serviço de tradução de qualidade. No entanto, apesar da prevalência da revisão nos fluxos de trabalho do processo de tradução e do importante papel dos revisores nas abordagens à garantia de qualidade, ela continua, em grande parte, ausente dos modelos de avaliação da qualidade da tradução (AQT) existentes. Os modelos atuais, que adotam uma abordagem predominantemente centrada no produto, são demasiado restritos no reconhecimento da revisão como parte integrante do fluxo de trabalho de tradução, assim como no papel desempenhado pela autorrevisão. Do mesmo modo, deve haver um aperfeiçoamento destes modelos de AQT no sentido de abordarem o processo atual que investiga os aspetos cognitivos da tarefa de tradução. O presente artigo apela à inclusão da edição e da revisão nos modelos de AQT como componentes essenciais das estruturas de qualidade existentes e para dar conta deste novo conjunto de conhecimentos.

A investigação atual sobre revisão de tradução destaca a importância de reexaminar tanto a edição como a revisão e a sua relação com a avaliação da qualidade da tradução. Robert e Brunette (2016)Robert, Isabelle S., and Louise Brunette 2016 “Should Revision Trainees Think Aloud While Revising Somebody Else’s Translation? Insights from an Empirical Study with Professionals.” Meta 61 (2): 320–345. DOI logoGoogle Scholar, por exemplo, lamentam a inexistência de um modelo de revisão de tradução. A sua investigação aponta para a importância da identificação de problemas durante o processo de revisão e sugere que a capacidade para encontrar potenciais soluções pode melhorar a qualidade global da revisão. Esta constatação está de acordo com a descrição da revisão feita por Muñoz Martín (2014) 2014 “A Blurred Snapshot of Advances in Translation Process Research.” MonTI Special Issue – Minding Translation 1: 49–84.Google Scholar no que diz respeito à metacognição, recordando o modelo tripartido de gestão da incerteza de Angelone (2010)Angelone, Erik 2010 “Uncertainty, Uncertainty Management and Metacognitive Problem Solving in the Translation Task.” In Translation and Cognition, edited by Gregory M. Shreve and Erik Angelone, 17–40. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar. Angelone (2010)Angelone, Erik 2010 “Uncertainty, Uncertainty Management and Metacognitive Problem Solving in the Translation Task.” In Translation and Cognition, edited by Gregory M. Shreve and Erik Angelone, 17–40. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar refere como os tradutores devem primeiro reconhecer um problema no texto antes de propor e avaliar uma solução de tradução. Por outro lado, Robert (2014)Robert, Isabelle S. 2014 “Investigating the Problem-Solving Strategies of Revisers through Triangulation: An Exploratory Study.” Translation and Interpreting Studies 9 (1): 88–108. DOI logoGoogle Scholar observa que, embora a reflexão e a reformulação possam formar uma estratégia durante o processo de revisão, tal não é necessariamente indicativo de uma maior qualidade da tradução. Estes estudos empíricos recentes sobre revisão de tradução, por vezes contraditórios entre si, apontam para a necessidade de revisitar o papel da revisão na qualidade da tradução e a necessidade de a incluir nos modelos de AQT.

Um dos desafios resultantes da reanálise destes modelos de AQT é a necessidade de determinar o que constitui qualidade durante a tarefa de revisão, particularmente à luz do processo de tradução redirecionado pela introdução das ferramentas de tradução assistida por computador, tais como as memórias de tradução e os sistemas de gestão terminológica, bem como da tradução automática em fluxos de trabalho de tradução. Por conseguinte, este artigo contribui igualmente para a discussão da avaliação da qualidade, ao examinar as suas múltiplas perspetivas e rever a investigação cognitiva que aborda tanto o produto como o processo e a sua relação com a qualidade. Diversos investigadores (por exemplo, Halverson 2013Halverson, Sandra L. 2013 “Implications of Cognitive Linguistics for Translation Studies.” In Cognitive Linguistics and Translation, edited by Ana Rojo and Iraide Ibarretxe-Antuñano, 33–73. Berlin: De Gruyter Mouton. DOI logoGoogle Scholar; Muñoz Martín 2014 2014 “A Blurred Snapshot of Advances in Translation Process Research.” MonTI Special Issue – Minding Translation 1: 49–84.Google Scholar; Alves 2015Alves, Fabio 2015 “Translation Process Research at the Interface: Paradigmatic, Theoretical, and Methodological Issues in Dialogue with Cognitive Science, Expertise Studies, and Psycholinguistics.” In Psycholinguistic and Cognitive Inquiries into Translation and Interpreting, edited by Aline Ferreira and John W. Schwieter, 17–40. Amsterdam: John Benjamins.Google Scholar) argumentaram que a utilização de paradigmas de investigação linguística cognitiva ou da ciência cognitiva para examinar questões ou problemas convencionais nesta área pode enriquecer a nossa compreensão daqueles conceitos. Risku (2010)Risku, Hanna 2010 “A Cognitive Scientific View on Technical Communication and Translation: Do Embodiment and Situatedness Really Make a Difference?Target 22 (1): 94–111. DOI logoGoogle Scholar, por exemplo, demonstra a utilidade da aplicação de uma perspetiva científica cognitiva à investigação que envolve a comunicação técnica e a tradução. Ao mesmo tempo, sugere que as descobertas na ciência cognitiva podem alterar a nossa compreensão de conceitos estabelecidos dos estudos de tradução. Jääskeläinen (2016)Jääskeläinen, Riitta 2016 “Quality and Translation Process Research.” In Reembedding Translation Process Research, edited by Ricardo Muñoz Martín, 89–106. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar salienta igualmente a importância de revisitar a noção de qualidade na tradução, examinando a investigação orientada para o processo em conjunto com abordagens orientadas para o produto em matéria de qualidade da tradução. Jääskeläinen argumenta que o processo de tradução deve ser incluído na avaliação da qualidade da tradução em vez de a qualidade ser determinada unicamente a partir de uma perspetiva orientada para o produto final. Em linha com esta abordagem, o presente artigo propõe-se examinar três conceitos em relação à qualidade – nomeadamente a adequação, a cognição distribuída e a saliência – e como estes são tratados na investigação relacionada com o processo de tradução, pós-edição, e tecnologia de tradução. Através da análise da investigação académica atual no domínio relacionado com estes conceitos e revelando pressupostos implícitos relacionados com a qualidade, propor-se-á a inclusão destas tarefas (de edição e de revisão) nos modelos de avaliação da qualidade da tradução.

A escolha destes três conceitos ajuda a elucidar vários aspetos da qualidade da tradução. O primeiro destes conceitos – adequação – representa uma abordagem mais tradicional da qualidade de tradução, orientada para o produto final, enquanto os outros dois – cognição distribuída e saliência – são mais pertinentes na discussão das tarefas de edição e de revisão durante o processo de tradução. Em particular, a cognição distribuída reflete sobre as alterações na tarefa de tradução provocadas pela inclusão das tecnologias de tradução nos fluxos de trabalho. A combinação de uma abordagem orientada para o produto e para o processo proporciona uma perspetiva mais ampla quando se examina a qualidade da tradução. Do mesmo modo, a construção da saliência complementa as duas visões anteriores, na medida em que destaca as mudanças no paradigma da tarefa resultantes da interação dos tradutores com as tecnologias de tradução. A escolha destes três conceitos não representa, de forma alguma, uma tentativa de apresentar uma visão exaustiva das construções cognitivas dignas de serem objeto de investigação. Pelo contrário, eles revelam-se úteis para examinar pressupostos relacionados com a avaliação da qualidade da tradução e ilustrar a importância de incluir a edição e a revisão nos modelos de AQT.

O presente artigo está estruturado da seguinte forma: em primeiro lugar, os termos edição e revisão são analisados e diferenciados para clarificar a sua utilização; as três secções seguintes examinam as relações entre a avaliação da qualidade da tradução e a adequação, a cognição distribuída e a saliência, respetivamente. Cada uma destas três perspetivas oferece perspetivas importantes sobre as noções de qualidade e o papel da edição e da revisão no processo de tradução. O artigo conclui com uma expansão e reiteração do argumento para incluir estas tarefas nos modelos de AQT.

2.Rever e editar

Antes de examinar os potenciais pressupostos subjacentes à decisão de incorporar a edição e a revisão nos fluxos de trabalho do processo de tradução, deve primeiro fazer-se uma importante distinção terminológica entre edição e revisão. Estes dois conceitos são frequentemente confundidos, sendo, por vezes, considerados permutáveis, mas, na realidade, representam comportamentos diferentes. Ambas as tarefas surgem regularmente em projetos de tradução, mas o âmbito do trabalho envolvido em cada uma delas difere consideravelmente. Embora seja difícil determinar a verdadeira razão da confusão terminológica entre edição e revisão, os investigadores devem estar cientes das várias razões possíveis para que estes termos sejam regularmente confundidos e questionar cuidadosamente qual o conceito que é referenciado na literatura existente. Na norma ISO 17100, o termo revisão é referido como o ato de editar em duas línguas. Do mesmo modo, várias entidades do setor (por exemplo, a Common Sense Advisory ou a American Translators Association), assim como a norma americana ASTM 2575, utilizam o termo edição para se reportarem à verificação de uma tradução relativamente ao material na língua de partida. Para a norma ISO, contudo, esta verificação bilingue do texto de chegada em relação ao conteúdo na língua de partida é sinónimo de revisão. A questão acentua-se na medida em que os fluxos de trabalho de tradução são frequentemente descritos como seguindo um paradigma TEP, em que o acrónimo significa tradução-edição-provas, não sendo claro se o segundo passo é uma referência à edição monolingue ou à revisão bilingue do texto de chegada em relação à versão na língua de partida. Seja esta confusão terminológica entre edição e revisão, consoante o contexto, o resultado de uma variante regional ou de uma especificidade linguística, para os efeitos deste artigo, serão consideradas as definições da norma ISO.

A tarefa de edição é tipicamente encarada como envolvendo apenas a versão do texto traduzido na língua de chegada (Mossop 2014Mossop, Brian 2014Revising and Editing for Translators. 3rd ed. New York: Routledge.Google Scholar; ISO 17100). Dependendo do tipo de revisão solicitada, um editor pode fazer alterações no texto no que diz respeito ao estilo, estrutura ou conteúdo, de acordo com o guia de estilo ou as convenções linguísticas prescritas. No entanto, esse editor concentra-se apenas no texto de chegada e não verifica a tradução em relação à versão linguística de partida.

A tarefa de revisão consiste numa verificação da tradução na língua de chegada de um texto por comparação com o texto na língua de partida (Mossop 2014Mossop, Brian 2014Revising and Editing for Translators. 3rd ed. New York: Routledge.Google Scholar; ISO 17100). Ao contrário da edição, a revisão envolve a avaliação do conteúdo de ambas as versões do texto e a avaliação da tradução, tanto na sua forma como na sua adequação ao objetivo (ISO17000). Embora tanto as tarefas de edição como de revisão se foquem na qualidade do texto de chegada no que diz respeito à terminologia, sintaxe e estilo, a que acrescem os guias de estilo fornecidos pelo cliente, a natureza comparativa da revisão contribui para a sua diferenciação relativamente à tarefa de edição no processo de tradução.

Como conceito relacionado, a autorrevisão reporta a uma tarefa que se pode descrever como um híbrido da edição e da revisão, na medida em que o próprio tradutor revê a tradução em conjunto com a versão da língua de partida. O tradutor pode também optar por rever a tradução sem verificar o texto original (ou seja, editar a tradução); contudo, a sobreposição do comportamento de edição e revisão torna difícil diferenciar claramente estas duas tarefas. Künzli (2007Künzli, Alexander 2007 “Translation Revision: A Study of the Performance of Ten Professional Translators Revising a Legal Text.” In Doubts and Directions in Translation Studies: Selected Contributions from the EST Congress, Lisbon 2004, edited by Radegundis Stolze, Miriam Shlesinger, and Yves Gambier, 115–126. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar, 116), tendo por base uma pesquisa empírica, descreve a autorrevisão como uma fase única do processo de tradução. A sua investigação, em parceria com Shih (2006)Shih, Claire Yi-Yi 2006 “Revision from Translators’ Point of View. An Interview Study.” Target 18 (2): 295–312. DOI logoGoogle Scholar e Englund Dimitrova (2005), assinala a importância da definição da tarefa na formação da abordagem adotada pelos tradutores durante a autorrevisão. Englund Dimitrova (2005)Englund Dimitrova, Birgitta 2005Expertise and Explicitation in the Translation Process. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar realça ainda que a autorrevisão pode alterar a tradução após a produção inicial de um texto de chegada. Além do mais, a autorrevisão nem sempre representa uma etapa ou fase definidas no tempo no processo de tradução, uma vez que podem já ocorrer comportamentos de edição e revisão durante a redação do texto de chegada. Mellinger (2014)Mellinger, Christopher D. 2014Computer-Assisted Translation: An Empirical Investigation of Cognitive Effort. PhD diss. Kent State University. Available at: http://​bit​.ly​/1ybBY7W descreve potenciais diferenças no comportamento de redação e edição quando os tradutores trabalham com memórias de tradução e considera que estes podem divergir em relação a aspetos específicos de redação.

3.Revisão e adequação

Num primeiro momento, a análise do conceito de adequação é fundamental, uma vez que ele é representativo de uma abordagem tradicional, orientada para o produto, da avaliação da qualidade da tradução. Antes de se examinarem abordagens mais orientadas para o processo, é necessário considerar os pressupostos relativos à adequação. A investigação levada a cabo por investigadores, tanto da tradução humana como da tradução automática, explicou a adequação em grande parte a partir de uma visão sobre a tradução orientada para o produto. Even-Zohar (1975Even-Zohar, Itamar 1975 “Decisions in Translating Poetry.” Ha-sifrut/Literature 21: 32–45.Google Scholar,43; citado em Toury 2012Toury, Gideon 2012 Descriptive Translation Studies – and Beyond. Revised edition. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar,79), por exemplo, refere-se a uma tradução adequada produzida por um tradutor humano como uma tradução que “concretiza na língua de chegada as relações textuais de um texto de partida sem que haja uma rutura com o seu próprio sistema linguístico [básico]”. Esta definição realça a relação intrínseca entre as versões na língua de partida e na de chegada e posiciona o texto de partida como a referência perante a qual o texto de chegada será comparado. Toury (2012Toury, Gideon 2012 Descriptive Translation Studies – and Beyond. Revised edition. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar, 79ff) descreve esta abordagem normalizada da tradução como potencialmente incompatível com certas convenções da língua de chegada, particularmente as de cariz extralinguístico. Por outro lado, as traduções aceitáveis podem ser as que subscrevem as normas da língua de chegada.

Particularmente ausente desta discussão está a noção de qualidade. Em vez disso, o enquadramento de uma tradução entre o adequado e o aceitável possibilita que as características textuais de nível micro sejam descritas em termos de normas de nível macro. Mais do que a comparação de casos específicos entre a língua de partida e a língua de chegada para determinar se foi introduzido um erro anómalo e difícil de operacionalizar, considera-se que estas interpretações da língua de chegada servem para dar maior atenção aos sistemas linguísticos de partida ou de chegada.22.Embora algumas características textuais possam ser difíceis de classificar como um erro no âmbito de uma norma dominante, o mesmo não acontece com outro tipo de erros, de cariz linguístico ou terminológico. Toury observa mesmo que esta análise tem sido maioritariamente aplicada a traduções mais humanistas, reconhecendo também a sua adequação a traduções de natureza mais pragmática.

Ao descrever a teoria de skopos, Vermeer ([1989] 2004)Vermeer, Hans J. (1989) 2004 “Skopos and Commission in Translational Action.” Translated by Andrew Chesterman. In The Translation Studies Reader. 2nd ed., edited by Lawrence Venuti, 227–238. New York: Routledge.Google Scholar salienta igualmente o produto da tradução para descrever a adequação na tradução, mas foca-se mais na orientação do texto de chegada para a cultura de chegada. Esta abordagem dissocia as versões nas línguas de partida e de chegada no que diz respeito à forma e estrutura dos textos, permitindo, assim, que uma tradução seja considerada adequada caso cumpra a função original. A noção do que Vermeer descreve como “coerência intertextual” (229) coloca o tradutor como aquele que ativamente ajusta a versão de chegada do texto com base na função que dele se pretende.

Os estudos descritivos de tradução, têm, contudo, menos impacto nas traduções não literárias de caráter mais prático, por encomenda; aqui, as normas de tradução acima citadas são em grande parte centradas no produto e enfatizam a complicada ideia de equivalência. Por exemplo, a ASTM 2575 descreve uma tradução como um “texto de chegada baseado num texto de partida de tal maneira que o conteúdo e, em muitos casos, a forma dos dois textos, podem ser considerados equivalentes”. Esta norma, juntamente com a sua homóloga europeia EN 15038 e a norma internacional ISO 17100, define a qualidade de uma tradução com base em normas ou instruções pré-negociadas com o cliente.33.A ISO 17100 (2015ISO 17100 2015Translation Services – Requirements for Translation Services. Geneva: ISO.Google Scholar) substituiu a norma europeia; no entanto, dada a prevalência da EN 15038 na literatura da especialidade, ambas as normas são aqui mencionadas como um ponto de referência. Estas instruções são variáveis e flexíveis, mas ambas as normas concordam que a tradução e a revisão estão no centro dos serviços de tradução de qualidade. Gouadec (2010)Gouadec, Daniel 2010Translation as a Profession. 2nd ed. Amsterdam: John Benjamins.Google Scholar também salienta a importância das especificações do cliente.

No entanto, as especificações do cliente colocam limites à possibilidade de uma abordagem à qualidade orientada unicamente para o texto de partida. Em vez disso, a qualidade deve ser considerada como uma confluência de vários fatores que podem incluir os requisitos do projeto, restrições tecnológicas e de recursos, bem como procedimentos específicos durante o processo de tradução. Bass (2006Bass, Scott 2006 “Quality in the Real World.” In Perspectives on Localization, edited by Keiran J. Dunne, 69–94. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar,94) reconhece este imperativo em relação à tradução; os projetos de tradução devem negociar “os requisitos de custo, tempo e qualidade”, tendo em conta os obstáculos extralinguísticos e não textuais à qualidade com uma relação direta ao produto final da tradução.44.O trabalho de Bass (2006)Bass, Scott 2006 “Quality in the Real World.” In Perspectives on Localization, edited by Keiran J. Dunne, 69–94. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar centra-se em grande parte no trabalho de localização. No entanto, estes comentários podem ser alargados a outros contextos de tradução. Para uma descrição da gestão da qualidade específica da localização, ver Dunne (2006)Dunne, Keiran J. 2006 “Putting the Cart behind the Horse: Rethinking Localization Quality Management.” In Perspectives on Localization, edited by Keiran J. Dunne, 95–117. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar. Esta questão acentua-se se considerarmos que os fornecedores de serviços linguísticos e os clientes podem ter dificuldade em identificar um produto de tradução de qualidade, optando, em alternativa, por confiar numa estimativa probabilística sobre a concretização de um produto de qualidade (Dunne 2012 2012 “The Industrialization of Translation: Causes, Consequences and Challenges.” Translation Spaces 1: 143–168. DOI logoGoogle Scholar). Esta assimetria de informação entre consumidores e clientes de tradução, fornecedores de serviços linguísticos e tradutores, implica a capacidade de adotar uma abordagem orientada para o produto e para a qualidade da tradução.

Para além dos projetos de tradução humana, o conceito de equivalência tem servido como ponto de partida para muitos estudos de tradução automática na procura de traduções adequadas. Por exemplo, o sistema de pontuações BLEU é utilizado como métrica para a proximidade relativa entre um texto traduzido por uma ferramenta de tradução automática e um produto de uma tradução humana. Inicialmente proposta por Papineni et al. (2002)Papineni, Kishore, Salim Roukos, Todd Ward, and Wei-Jing Zhu 2002 “BLEU: A Method for Automatic Evaluation of Machine Translation.” In Proceedings of the 40th Annual Meeting of the Association for Computational Linguistics, 311–318. Stroudsburg, PA: ACL.Google Scholar, esta métrica tornou-se uma medida perante a qual todas as novas métricas de avaliação da qualidade na tradução automática podem ser comparadas; contudo, ela continua a centrar-se diretamente no produto e na relativa semelhança de um texto de chegada com os textos de partida. Além disso, a avaliação feita por seres humanos de textos de tradução automática ajudou a identificar a qualidade da tradução automática e pode ser utilizada em conjunto com medidas automatizadas de adequação para determinar a qualidade da tradução (Specia et al. 2011Specia, Lucia, Najeh Hajlaoui, Catalina Hallett, and Wilker Aziz 2011 “Predicting Machine Translation Accuracy.” MT Summit XIII: The Thirteenth Machine Translation Summit, 513–520. Xiamen, China.Google Scholar). Estas métricas servem apenas como indicadores da qualidade da tradução automática na fase inicial, sendo os pós-editores que frequentemente adequam a matéria-prima a um objetivo específico.

Outros inquéritos à qualidade das traduções de caráter mais prático feitas por tradutores humanos fornecem abordagens adicionais no que toca à perceção da qualidade. Williams (2004)Williams, Malcolm 2004Translation Quality Assessment: An Argumentation-Centred Approach. Ottawa: University of Ottawa Press.Google Scholar, por exemplo, examina a teoria da argumentação como um meio através do qual os tradutores podem avaliar o produto da tradução para além dos erros de nível micro. Em vez de estruturas léxicas e sintáticas, Williams defende o escrutínio de uma tradução ao nível do texto, da mensagem e do raciocínio. Esta abordagem permite que as decisões de avaliação sejam orientadas consoante a gravidade do erro identificado e pelo uso final e função do próprio texto.55.Ainda que não apresentada explicitamente na obra, a abordagem de Williams (2004)Williams, Malcolm 2004Translation Quality Assessment: An Argumentation-Centred Approach. Ottawa: University of Ottawa Press.Google Scholar à avaliação da qualidade da tradução parece basear-se na Teoria da Estrutura Retórica de Mann e Thompson (1988)Mann, William C., and Sandra A. Thompson 1988 “Rhetorical Structure Theory: Toward a Functional Theory of Text Organization.” Text 8 (3): 243–281. DOI logoGoogle Scholar. Com uma abordagem diferente, House (2015)House, Juliane 2015Translation Quality Assessment: Past and Present. New York: Routledge.Google Scholar revê versões anteriores do seu modelo de avaliação da qualidade da tradução para considerar tanto os textos de partida como os de chegada e propõe que os tipos de tradução velada (covert translation) e explícita (overt translation) façam parte do processo e possam ser priorizados em traduções específicas. Esta “dupla ligação” de ambos os textos incide diretamente sobre a tradução como “uma operação linguística-textual” (142–143) e fornece um modelo abrangente a partir do qual é possível avaliar as traduções.66.A descrição aqui feita dos modelos de avaliação da qualidade da tradução não é de forma alguma exaustiva. A monografia de Drugan (2013)Drugan, Joanna 2013Quality in Professional Translation: Assessment and Improvement. London: Bloomsbury.Google Scholar sobre a qualidade na tradução profissional traça o desenvolvimento de abordagens de cima para baixo e de baixo para cima da avaliação e da qualidade, frequentemente em desacordo. Lee (2006)Lee, Hyang 2006 “Révision: Définitions et paramètres.” Meta 51 (2): 410–419. DOI logoGoogle Scholar e Brunnette (2000)Brunette, Louise 2000 “Towards a Terminology for Translation Quality Assessment: A Comparison of TQA Practices.” The Translator 6 (2): 169–182. DOI logoGoogle Scholar apontam de forma semelhante para conceções opostas de qualidade da tradução. Para uma discussão mais alargada sobre as várias abordagens à avaliação da qualidade da tradução e o debate significativo em torno do que constitui qualidade, ver House (2015)House, Juliane 2015Translation Quality Assessment: Past and Present. New York: Routledge.Google Scholar.

Há, no entanto, quem critique o papel da edição e da revisão no contexto da qualidade de tradução. Não obstante alguns investigadores retirarem a edição e a revisão da discussão da avaliação da qualidade da tradução (ver Drugan 2013Drugan, Joanna 2013Quality in Professional Translation: Assessment and Improvement. London: Bloomsbury.Google Scholar,69 para uma revisão alargada da literatura), o presente artigo segue a linha de Mossop (2014)Mossop, Brian 2014Revising and Editing for Translators. 3rd ed. New York: Routledge.Google Scholar quando este defende a abordagem da edição e da revisão naquele contexto de avaliação. Os comentários de Brunnette (2000)Brunette, Louise 2000 “Towards a Terminology for Translation Quality Assessment: A Comparison of TQA Practices.” The Translator 6 (2): 169–182. DOI logoGoogle Scholar sobre o texto com que os editores e revisores trabalham são particularmente esclarecedores. Muitas vezes, os editores e revisores lidam com versões finais (ou quase finais) de uma tradução. A este respeito, a avaliação da qualidade da tradução é realizada antes do seu trabalho editorial. No entanto, os desenvolvimentos ao nível das ferramentas automáticas de tradução, juntamente com as mudanças nos fluxos de trabalho de produção de texto, fazem avançar o papel do revisor no processo de tradução. As tarefas desempenhadas pelo editor – por exemplo, o fornecimento de comentários aos tradutores sobre projetos anteriores; a gestão terminológica antes e durante o trabalho de tradução; a harmonização de estilo entre vários tradutores, e a criação de guias de estilo para o cliente – já não ocorrem exclusivamente no final da tradução.77.O sistema tradicional de gestão de projetos em cascata foi descrito no contexto da tradução e localização (por exemplo, Dunne 2011 2011 “From Vicious to Virtuous cycle: Customer-Focused Translation Quality Management Using ISO 9001 Principles and Agile Methodologies.” In Translation and Localization Project Management, edited by Keiran J. Dunne and Elena S. Dunne, 153–187. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar; Drugan 2013Drugan, Joanna 2013Quality in Professional Translation: Assessment and Improvement. London: Bloomsbury.Google Scholar) como contendo as abordagens mais constantes, tais como a metodologia Agile (Dunne 2011 2011 “From Vicious to Virtuous cycle: Customer-Focused Translation Quality Management Using ISO 9001 Principles and Agile Methodologies.” In Translation and Localization Project Management, edited by Keiran J. Dunne and Elena S. Dunne, 153–187. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar). Em particular, uma mudança de projetos de tradução exclusivamente baseados em texto para a localização baseada no conteúdo exige que se reconsidere uma progressão linear através da tradução-edição-revisão. Elas acontecem durante o processo de tradução e, embora não se tratem de tradução no sentido mais tradicional, devem, no mínimo, ser consideradas como fazendo parte do conceito de qualidade da tradução.

A revisão, como elemento principal, desempenha um papel fundamental na produção de traduções adequadas ou aceitáveis aos olhos dos fornecedores de serviços linguísticos. O pressuposto subjacente à inclusão da revisão no fluxo de trabalho de tradução é descrito sucintamente na norma americana como “a primeira oportunidade para confirmar o cumprimento das especificações”, na qual os textos de partida e de chegada são comparados, sendo este último “completo, preciso e livre de interpretações erróneas do texto de partida e que a terminologia apropriada tenha sido aplicada ao longo de todo o processo”. Como tal, a tarefa de revisão pode ser vista como uma tarefa de controlo de qualidade destinada a detetar e corrigir erros.88.A propósito disto, o estudo etnográfico de Koskinen (2008)Koskinen, Kaisa 2008Translating Institutions: An Ethnographic Study of EU Translation. Manchester: St. Jerome.Google Scholar da Comissão Europeia observa que o processo de revisão, embora apontado como sendo imprescindível, muitas vezes não é dotado de recursos e tempo suficientes nos fluxos de trabalho da tradução. A potencial eliminação da revisão do fluxo de trabalho de tradução compromete ainda mais os princípios de qualidade, na medida em que os padrões profissionais estão muitas vezes desalinhados com a prática. As empresas de tradução confiam fortemente nesta etapa nos seus fluxos de trabalho, com os revisores a emprestarem os seus conhecimentos linguísticos para avaliar traduções que as próprias empresas não conseguem verificar.

Noções como precisão e interpretações corretas do texto original, vieram, no entanto, contradizer dois dos pressupostos frequentemente presentes em projetos de tradução profissional. O primeiro pode ser considerado como uma compreensão positivista do significado subjacente ao texto de partida. Por exemplo, Koby et al. (2014Koby, Geoffrey S., et al. 2014 “Defining Translation Quality.” Tradumàtica 12: 413–420. DOI logoGoogle Scholar, 415) defendem a “máxima fluência e exatidão” ao tentarem definir a qualidade da tradução, tendo rejeitado a “possibilidade de precisão e fluência ‘perfeitas’”. Esta abordagem orientada para o produto parece ecoar os padrões da indústria linguística sem ter em conta considerações extralinguísticas. Embora Koby et al. pareçam supor que estas características não textuais serão evidentes ou estarão contabilizadas no próprio texto, há poucas provas que sugiram que apenas uma tradução atingirá este fim específico. Partem ainda do princípio de que estas características serão, de facto, conhecidas pelo editor ou pelo avaliador. Além disso, defendem a criação de uma medida objetiva perante a qual as traduções possam ser avaliadas. Mais uma vez, esta visão de um texto de partida estável e de instruções claras e pré-negociadas com o cliente parece insustentável, pelo menos no contexto atual, ao basear-se numa conceção específica de qualidade, da qual os próprios autores discordam.99.É de notar que Koby et al. (2014) admitem abertamente ter opiniões divergentes no que respeita à definição restrita ou ampla de qualidade. O seu objetivo é que a discussão conduza a um exame mais aprofundado do que constitui qualidade.

O segundo pressuposto é o de o revisor estar em condições de avaliar a tradução. As normas e os profissionais caracterizam frequentemente o revisor como um tradutor mais experiente que possui os conhecimentos linguísticos e específicos necessários para identificar interpretações erradas e imprecisões no projeto de tradução. Todavia, estudos especializados sugerem que a experiência de tradução como uma qualificação necessária dos revisores pode exigir um maior escrutínio. Os investigadores começaram a questionar se os conhecimentos especializados no âmbito da tarefa de tradução são suficientemente semelhantes à tarefa de revisão de modo a poderem ser transpostos para essa área (cf. Shreve 2006Shreve, Gregory M. 2006 “The Deliberate Practice: Translation and Expertise.” Journal of Translation Studies 9 (1): 27–42.Google Scholar). Ao estudarem o processo de tradução, debruçaram-se sobre o uso de paráfrases, da edição, da revisão e da pós-edição, e até que ponto um texto deve ser editado antes de ser abandonado e considerado com qualidade suficiente para avançar para as tarefas subsequentes (por exemplo, Englund Dimitrova 2005Englund Dimitrova, Birgitta 2005Expertise and Explicitation in the Translation Process. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar; O’Brien 2007O’Brien, Sharon 2007 “An Empirical Investigation of Temporal and Technical Post-Editing Effort.” Translation and Interpreting Studies 2 (1): 83–136. DOI logoGoogle Scholar; Whyatt, Stachowiak e Kajzer- Wietrzny 2016Whyatt, Bogusława, Katarzyna Stachowiak, and Marta Kajzer-Wietrzny 2016 “Similar and Different: Cognitive Rhythm and Effort in Translation and Paraphrasing.” Poznan Studies in Contemporary Linguistics 52 (2): 175–208. DOI logoGoogle Scholar). Estes estudos só agora começaram a revelar o comportamento do tradutor e do editor e são limitados em número e âmbito, de tal modo que ainda não é possível retirar conclusões definitivas. No entanto, o simples levantamento destas questões evidencia possíveis áreas em que o papel e a caracterização do editor devem ser repensados.

A adequação e a sua relação intrínseca com a qualidade e, por extensão, com a revisão, é, assim, complexa, dado o seu enquadramento no processo de tradução. Os sistemas de tradução assistida por computador e de tradução automática esbatem ainda mais as linhas de qualidade da tradução, na medida em que se introduz um terceiro agente na produção de texto, num binómio já de si confuso. Só por si, o enfoque dado à qualidade da tradução na revisão orientada para o produto não aborda suficientemente as questões da qualidade e da revisão. Para melhor compreender em que medida as ferramentas de tradução automática e de tradução assistida por computador alteram o processo de revisão, surgem os conceitos de cognição distribuída e saliência como abordagens orientadas para o processo de qualidade da tradução que têm em conta os fluxos de trabalho e o paradigma da tarefa de tradução.

4.Revisão e cognição distribuída

Até aqui, tem-se discutido uma abordagem predominantemente orientada para o produto da qualidade da tradução; adequação e exatidão referem-se em grande parte a características textuais aos níveis micro e macro, e a uma potencial análise ou avaliação da sua adequação global ao contexto em que aparecem. Contudo, devemos também considerar o processo segundo o qual estas traduções são produzidas. Assim, como segundo conceito a examinar em relação à qualidade, o papel da distribuição cognitiva na revisão será encarado como um meio para investigar o fluxo de trabalho de tradução, dado o envolvimento de várias pessoas (tradutores, revisores, revisores de provas) na elaboração da versão final do texto de chegada. Jääskeläinen (2016)Jääskeläinen, Riitta 2016 “Quality and Translation Process Research.” In Reembedding Translation Process Research, edited by Ricardo Muñoz Martín, 89–106. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar identifica a qualidade da tradução no seu relacionamento com a investigação do processo de tradução e clarifica esta distinção utilizando a definição tripartida de produto, processo e qualidade social de Abdallah (2007)Abdallah, Kristiina 2007 “Tekstittämisen laatu – mitä se oikein on?” [Subtitling quality – what is it?]. In Olennaisen äärellä. Johdatus audiovisuaaliseen käätämiseen [Introduction to audiovidual translation], edited by Riitta Oittinen and Tiina Tuominen, 272–293. Tampere: Tampereen yliopistopaino.Google Scholar. A sua abordagem à qualidade enfatiza a investigação nos estudos processuais da tradução (TPR) em várias áreas e destaca a importância de não separar o produto de tradução da sua produção.1010.Esta abordagem contrasta grandemente com a rejeição de House (2015House, Juliane 2015Translation Quality Assessment: Past and Present. New York: Routledge.Google Scholar, 118) da capacidade para, no processo de tradução, se investigarem os processos cognitivos no âmbito da avaliação da qualidade da tradução. A principal alegação de House é que o comportamento passível de ser observado não revela de forma conclusiva o processamento cognitivo dado este ser intrinsecamente inobservável.

O processo de elaboração das traduções reveste-se de particular importância à luz dos avanços tecnológicos e da inclusão de meios auxiliares à tradução. Desde as tentativas iniciais de conseguir uma tradução automática totalmente automatizada de alta qualidade nas décadas de 1950 e 1960, até ao subsequente desenvolvimento das ferramentas de trabalho do tradutor, a tradução assistida por computador tornou-se uma característica comum ao trabalho de tradução não literária (Hutchins 1998Hutchins, John 1998 “The Origin of the Translator’s Workstation.” Machine Translation 13 (4): 287–307. DOI logoGoogle Scholar; Quah 2006Quah, C. K. 2006Translation and Technology. New York: Palgrave Macmillan. DOI logoGoogle Scholar). O advento das memórias de tradução e dos sistemas de gestão terminológica, a par do desenvolvimento da tradução automática baseada em regras e estatísticas, alterou o panorama da tradução profissional. A capacidade de gerir e utilizar estes sistemas tornou-se praticamente um requisito para os tradutores profissionais.

Drugan (2013)Drugan, Joanna 2013Quality in Professional Translation: Assessment and Improvement. London: Bloomsbury.Google Scholar reconhece esta mudança na indústria linguística e sublinha as limitações existentes no ensino académico no que toca ao impacto das tecnologias na qualidade da tradução. Em vez de se concentrar num par de línguas ou numa ferramenta de tradução específica, Drugan descreve o fluxo de trabalho – ou seja, o processo mais vasto de tradução que envolve várias etapas e tarefas – como tendo uma relação direta com a qualidade da tradução. Além disso, o paradigma tradicional da tradução-edição-revisão necessita de ser consideravelmente alargado para integrar as ferramentas de tradução, como é frequentemente recomendado pelos seus criadores. Cronin (2013Cronin, Michael 2013Translation in the Digital Age. New York: Routledge.Google Scholar, 128) tem um ponto de vista diferente – as tentativas da indústria linguística de automatização da tradução em larga escala acabam por enfatizar as conceções de qualidade orientadas para o produto:

A qualidade é, de certa forma, o regresso do reprimido detalhe de tradução. A atenção cuidadosa e detalhada ao texto, língua e significado que está implícito no ato de tradução reemerge no contexto da automatização nos debates sobre a extensão e o papel da pós-edição, e sobre o modo como se pode alcançar uma qualidade aceitável na produção da tradução.

Segundo Cronin, o processo de automatização da tradução levou os seus defensores a rever o produto de tradução como um meio de medir o sucesso ou a qualidade na tradução automática. Enquanto os tradutores enfatizam o produto textual, verifica-se que um processo abrangente – neste caso, o modo de produção da tradução – influenciou de forma implícita a operacionalização da qualidade.

No entanto, a utilização de ferramentas de tradução assistida por computador altera fundamentalmente a tarefa de tradução e acrescenta uma camada adicional de mediação à tradução e à revisão. A afirmação de Dragsted (2008)Dragsted, Barbara 2008 “Computer-aided Translation as a Distributed Cognitive Task.” In Dror and Harnad 2008a, 237–256.Google Scholar de que a tradução assistida por computador é um ato de cognição distribuída realça esta mudança na tarefa de tradução. A cognição distribuída, um conceito apresentado pela primeira vez por Hutchins (1995)Hutchins, Edwin 1995Cognition in the Wild. Cambridge, MA: MIT Press.Google Scholar, é uma abordagem à ciência cognitiva que sugere que o processamento cognitivo ocorre para além de um indivíduo. Ao rever o trabalho de Hutchins, Turner (2016Turner, Phil 2016HCI Redux: The Promise of Post-Cognitive Interaction. Switzerland: Springer. DOI logoGoogle Scholar,76) descreve a cognição distribuída segundo a qual “os processos cognitivos são distribuídos entre múltiplos atores humanos, artefatos e representações externas e as relações entre estes elementos […] trabalham em conjunto para atingir o objetivo do sistema”. Assim, para Dragsted (2008)Dragsted, Barbara 2008 “Computer-aided Translation as a Distributed Cognitive Task.” In Dror and Harnad 2008a, 237–256.Google Scholar, o processo de tradução é um exemplo de cognição distribuída na medida em que pelo menos dois atores estão presentes, assim como várias ferramentas tecnológicas que concorrem para o objetivo final de uma tradução de qualidade.1111.Este trabalho foi também desenvolvido por Risku, Windhager e Apfelthaler (2013)Risku, Hanna, Florian Windhager, and Matthias Apfelthaler 2013 “A Dynamic Network Model of Translatorial Cognition and Action.” Translation Spaces 2: 151–182. DOI logoGoogle Scholar e por Risku e Windhager (2013)Risku, Hanna, and Florian Windhager 2013 “Extended Translation: A Sociocognitive Research Agenda.” Target 25 (1): 33–45. DOI logoGoogle Scholar. Dror e Harnad (2008aDror, Itiel E., and Stevan Harnad eds. 2008aCognition Distributed: How Cognitive Technology Extends our Minds. Philadelphia: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar, 2008b 2008b “Offloading Cognition onto Cognitive Technology.” In Dror and Harnad 2008a, 1–23.Google Scholar) sublinham que a cognição distribuída ao serviço de um objetivo global, é facilitada pela tecnologia. A integração de memórias de tradução e sistemas de gestão terminológica no processo de tradução distribui a capacidade de múltiplos atores trabalharem de forma assíncrona e transferirem parte do seu processamento cognitivo para a tecnologia, permitindo-lhes, deste modo, ampliar as suas competências.1212.A influência da tecnologia na cognição não deve ser tomada como certa. Glenberg (2006)Glenberg, Arthur M. 2006 “Radical Changes in Cognitive Process due to Technology: A Jaundiced View.” Pragmatics & Cognition 14 (2): 263–274. DOI logoGoogle Scholar, por exemplo, investiga a cognição distribuída e a sua capacidade de influenciar a compreensão da linguagem e conclui que ela não altera significativamente o processamento cognitivo. Este debate está fora do âmbito deste artigo; contudo, a aplicação do conceito de ciência cognitiva à compreensão da linguagem é outro exemplo da utilidade de revisitar noções tradicionalmente sustentadas, tal como defende Muñoz Martín (2010)Muñoz Martín, Ricardo 2010 “Leave No Stone Unturned: On the Development of Cognitive Translatology.” Translation and Interpreting Studies 5 (2): 145–162. DOI logoGoogle Scholar.

No caso da tradução assistida por computador e da tradução automática, o tradutor ou o utilizador executa vários processos (por exemplo, compreensão, transferência e produção) com o auxílio do sistema informático. Este ato distribuído de cognição cria uma responsabilidade partilhada pelo produto final de tradução, em contraste com um modelo de produção de tradução exclusivamente humano. Em vez de o tradutor ser o único criador do texto de chegada, este ator serve agora como árbitro e editor do conteúdo gerado pela máquina. Como tal, o tradutor-editor assume um papel duplo, e por vezes concorrente, de gerar uma tradução apropriada e de assegurar que a utilização de traduções armazenadas ou de traduções geradas de forma automática seja aplicada corretamente e revista em conformidade. Numa perspetiva de qualidade exclusivamente orientada para o produto, a viragem ocorrida no modelo de produção minimizaria esta mudança significativa.

A alteração acima descrita não é, porém, uma visão completa do processo de tradução quando se trabalha com sistemas de tradução assistida por computador ou tradução automática. Para que estas ajudas à tradução sejam verdadeiramente eficazes no apoio ao fornecedor de serviços linguísticos na tarefa de tradução, o conteúdo traduzido deve ser armazenado, processado e aproveitado para ser útil. Tais ajudas são frequentemente o resultado do trabalho de outros profissionais da língua (por exemplo, tradutores, editores, revisores, escritores). Killman (2015)Killman, Jeffrey 2015 “Context as Achilles’ Heel of Translation Technologies: Major Implications for End Users.” Translation and Interpreting Studies 10 (2): 203–222. DOI logoGoogle Scholar destaca vários desafios inerentes à utilização de ferramentas de tradução, particularmente no que diz respeito a características contextuais extralinguísticas que ocorrem fora do segmento em que o tradutor está a trabalhar no momento. O reconhecimento neste modo de produção de texto é, assim, ainda mais distribuído, de tal forma que a qualidade da tradução depende de uma miríade de fatores e restrições.

Tendo em conta esta representação de cognição distribuída, a tarefa de edição realizada pelo tradutor na produção inicial do texto de chegada requer necessariamente uma avaliação significativa da qualidade das fontes de informação. Além disso, o tradutor deve determinar se a utilização destes recursos é, de facto, um apoio à tarefa de tradução. Teixeira (2014)Teixeira, Carlos S. C. 2014 “Perceived vs. Measured Performance in the Post-editing of Suggestions from Machine Translation and Translation Memories.” Proceedings of the AMTA 2014 Third Workshop on Post-editing Technology and Practice. Vancouver, BC.Google Scholar e Mellinger e Shreve (2016)Mellinger, Christopher D., and Gregory M. Shreve 2016 “Match Evaluation and Over-editing in a Translation Memory Environment.” In Reembedding Translation Process Research, edited by Ricardo Muñoz Martín, 131–148. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar identificam uma tendência dos tradutores para prosseguir a sua tarefa de tradução, independentemente de estas ajudas serem, de facto, úteis. A edição realizada pelo tradutor ao redigir o texto de chegada deve ser realizada de modo a que a qualidade, aos seus olhos, se adeque ao contexto e à tarefa em questão.

No paradigma TEP, contudo, a tradução é ainda o primeiro passo no fluxo de trabalho de tradução; muitas vezes, o passo seguinte no processo de tradução é a revisão por outro agente, tal como acontece quando não há uma ferramenta de tradução automática ou outro tipo de ajuda.1313.Suojanen, Koskinen e Tuominen (2015Suojanen, Tytti, Kaisa Koskinen, and Tiina Tuominen 2015User-Centred Translation. New York: Routledge.Google Scholar, 130) referem o primeiro passo como um processo de controlo de qualidade heurístico em que o tradutor se autorrevê ou verifica o seu trabalho em várias fases. No contexto do presente documento, a autorrevisão é concluída pelo tradutor antes de passar a tradução a outro agente para revisão. E aqui reside outro pressuposto implícito: o de que o revisor acrescenta valor ao texto produzido. Conforme descrito em muitas normas, o papel do revisor é o de detetar e corrigir quaisquer erros que estejam presentes na tradução. Se, contudo, o tradutor já estiver a desempenhar grande parte deste papel na revisão da tradução automática ou na correspondência das memórias de tradução, deve ser colocada a questão de saber se o trabalho realizado pelo revisor é necessário ou redundante. A inclusão de revisores no processo pode trazer paz de espírito ao cliente por se tratar de uma verificação extra, o que é razão suficiente para os incluir. Além disso, os revisores podem ser necessários para rever novas traduções produzidas pelo tradutor quando o material traduzido não estiver disponível para apoiar a tarefa de tradução. A qualidade que estes revisores garantem ou o valor que acrescentam exige mais trabalho de investigação.

Atualmente, existe uma relativa escassez de investigação sobre o comportamento e desempenho da revisão, o que impede que se retirem conclusões definitivas. Acumulam-se provas de que os revisores tendem a abordar a tarefa de edição com uma mentalidade de “detetar e corrigir”, tal como demonstrado por Mellinger e Shreve (2016)Mellinger, Christopher D., and Gregory M. Shreve 2016 “Match Evaluation and Over-editing in a Translation Memory Environment.” In Reembedding Translation Process Research, edited by Ricardo Muñoz Martín, 131–148. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar. A tarefa de revisão parece suscitar um efeito “tinta vermelha”, no qual os revisores e editores introduzem alterações preferenciais ao texto de chegada. Embora estas alterações não resultem necessariamente numa tradução inadequada, podem conduzir a uma ineficiência no processo de tradução e revisão. Consequentemente, a remuneração e o tempo despendidos na realização de alterações supérfluas ao texto superam qualquer valor acrescentado que possa advir do processo de tradução. Por outras palavras, os revisores que agem desta forma podem estar a fazer uma tradução parcial e correta para um grupo específico de leitores, mas estas alterações parecem ser economicamente ineficientes. É necessária mais investigação para replicar e verificar este comportamento em diferentes estilos de edição e perfis de editor.

5.Revisão e saliência

Até aqui, foram discutidas abordagens de qualidade orientadas para o produto e para o processo de tradução, tendo em conta o papel e o lugar da edição e da revisão. Estas abordagens são úteis para compreender aspetos específicos da qualidade da tradução, mas, isoladamente, não oferecem uma descrição completa da revisão e da sua relação com a qualidade. Por conseguinte, a noção de saliência será agora referida como uma terceira e última perspetiva de avaliação da qualidade, dada a potencial utilidade do conceito para compreender a apreciação final do que constitui qualidade num texto traduzido.

Na linguística, a saliência refere-se frequentemente ao “grau de proeminência relativa de uma unidade de informação, num determinado momento, em comparação com outras unidades de informação” e pode ocorrer ao nível de entidades ou afirmações, da informação e estrutura do discurso, e das características extralinguísticas (Chiarcos, Claus, e Grabski 2011Chiarcos, Christian, Berry Claus, and Michael Grabski 2011 “Introduction: Salience in Linguistics and Beyond.” In Salience: Multidisciplinary Perspectives on its Function in Discourse, edited by Christian Chiarcos, Berry Claus, and Michael Grabski, 1–28. Berlin: De Gruyter Mouton. DOI logoGoogle Scholar, 2; ver também Allan e Jaszczolt 2011Allan, Keith, and Kasia M. Jaszczolt eds. 2011Salience and Defaults in Utterance Processing. Berlin: De Mouton Gruyter.Google Scholar e Giora 2003Giora, Rachel 2003On Our Mind: Salience, Context, and Figurative Language. New York: Oxford University Press. DOI logoGoogle Scholar).1414.Por seu turno, Racz (2013)Racz, Peter 2013Salience in Sociolinguistics: A Quantitative Approach. Berlin: Mouton De Gruyter. DOI logoGoogle Scholar adota uma visão sociolinguística, em contraste com estas noções de saliência, mais tradicionais na linguística. No campo da investigação em psicologia, a saliência descreve normalmente “a capacidade de um estímulo para se destacar do resto” e é, portanto, mais suscetível de ser considerada e processada cognitivamente (Ellis 2016Ellis, Nick C. 2016 “Salience, Cognition, Language Complexity, and Complex Adaptive Systems.” Studies in Second Language Acquisition 38 (2): 341–351. DOI logoGoogle Scholar). De acordo com Ellis (342–343) há três aspetos relevantes para determinar a saliência: (1) o mundo físico e a personificação e os sentidos de uma pessoa que permitem que sensações específicas sejam tomadas como sendo mais proeminentes do que outras; (2) as experiências anteriores da pessoa que moldam o contexto em que os estímulos são percebidos; e (3) as expectativas da pessoa sobre o que vem a seguir com base no contexto.

Aplicada ao contexto da tradução e revisão, a saliência fornece uma visão sobre o comportamento de sobreedição observado por Mellinger e Shreve (2016)Mellinger, Christopher D., and Gregory M. Shreve 2016 “Match Evaluation and Over-editing in a Translation Memory Environment.” In Reembedding Translation Process Research, edited by Ricardo Muñoz Martín, 131–148. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar e ajuda a questionar o papel que a tecnologia pode desempenhar na explicação deste fenómeno. Os tradutores que prestam serviços linguísticos são frequentemente confrontados com a tarefa de trabalhar com ferramentas de tradução assistidas por computador que são declaradamente concebidas para os auxiliar. Como já foi referido, a introdução das ferramentas de tradução assistida por computador ou tradução automática vieram alterar as tarefas do tradutor e do revisor; há uma componente tecnológica adicional que chama a atenção para a utilização de uma ajuda específica na tradução e desvia as atenções da tarefa de edição. Esta mudança é significativa em si própria, e talvez a familiaridade do utilizador com o sistema possa explicar parcialmente as alterações no produto da tradução.

Uma consideração mais importante poderia ser a mudança no modelo de tarefas seguido pelos tradutores, editores e revisores. Mellinger e Shreve (2016)Mellinger, Christopher D., and Gregory M. Shreve 2016 “Match Evaluation and Over-editing in a Translation Memory Environment.” In Reembedding Translation Process Research, edited by Ricardo Muñoz Martín, 131–148. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar argumentam que ocorre uma mudança fundamental no fluxo de trabalho de tradução, particularmente se considerarmos o modelo tripartido de gestão da incerteza descrito por Angelone (2010)Angelone, Erik 2010 “Uncertainty, Uncertainty Management and Metacognitive Problem Solving in the Translation Task.” In Translation and Cognition, edited by Gregory M. Shreve and Erik Angelone, 17–40. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar, ou seja, reconhecimento do problema, proposta de solução e avaliação da solução. Na tradução sem recurso a ferramentas de tradução assistida por computador ou tradução automática, um tradutor tem de traduzir um texto, reconhecer os problemas no texto de partida, propor possíveis soluções e avaliar a sua adequação à luz de uma série de fatores. Este processo iterativo encara o texto de partida como a fonte dos problemas identificados.

No entanto, quando se trabalha com ferramentas de tradução assistida por computador ou tradução automática, há uma maior incidência na fase de proposta de soluções. A natureza distribuída da tarefa cognitiva acima descrita permite traduções prévias (ou seja, soluções preliminares), que foram apresentadas pelas ferramentas, como possíveis soluções para esta nova tarefa. Nesta configuração de tarefa, é introduzido um segundo foco de problemas – as traduções armazenadas. As soluções propostas são então avaliadas pelo tradutor-consultor para possível inclusão no texto de chegada. No entanto, não há garantia de qualidade do conteúdo destes segmentos. Como LeBlanc (2017)LeBlanc, Matthieu 2017 “ ‘I Can’t Get No Satisfaction’: Should We Blame Translation Technologies or Shifting Business Practices?” In Human Issues in Translation Technology, edited by Dorothy Kenny, 45–62. New York: Routledge.Google Scholar observa, a implementação de sistemas de memórias de tradução em ambientes profissionais é frequentemente orientada por práticas comerciais ou pela preferência do cliente, o que faz com que as versões de traduções preteridas sejam igualmente armazenadas na memória de tradução. Com dois problemas em confronto, associados a uma proposta de solução inovadora, a qualidade na tarefa de revisão pode exigir a negociação de múltiplas edições e decisões de tradução codificadas numa cadeia de caracteres.

Os revisores devem ser tidos em consideração nos modelos de avaliação da qualidade da tradução, uma vez que são mais um agente envolvido na concretização final do texto de chegada. Estes profissionais da língua não abordam a tarefa de revisão como uma tábua rasa, mas, em vez disso, trazem a sua própria conceção de uma possível tradução (Lörscher 1986Lörscher, Wolfgang 1986 “Linguistic Aspects of Translation Processes: Towards an Analysis of Translation Performance.” In Interlingual and Intercultural Communication: Discourse and Cognition in Translation and Second Language Acquisition Studies, edited by Juliane House and Shoshana Blum-Kulka, 277–292. Tübingen: Gunter Narr.Google Scholar, 1991 1991Translation Performance, Translation Process, and Translation Strategies. A Psycholinguistic Investigation. Tübingen: Gunter Narr.Google Scholar). A importância da experiência e as suas expectativas sobre o que constitui uma tradução apropriada para a língua de chegada podem entrar em conflito com a sugestão apresentada pela memória de tradução. Ao considerar a reconceptualização de Halverson (2015) 2015 “Cognitive Translation Studies and the Merging of Empirical Paradigms: The Case of ‘Literal Translation.’” Translation Spaces 4 (2): 310–340. DOI logoGoogle Scholar sobre a “hipótese de tradução literal”, torna-se evidente que estão em jogo versões e conceções de qualidade concorrentes. Halverson descreve a noção de tradução literal não necessariamente como uma interpretação próxima da língua de partida, que pode ser considerada precisa ou adequada se for seguida a terminologia orientada para o produto acima citada, mas antes como um tipo de tradução por defeito específico do tradutor (ou, neste caso, do revisor). Esta interpretação do texto de chegada feita pelo tradutor e baseada no texto de partida é sem dúvida diferente da de outros profissionais linguísticos. Assim, através da deteção e correção de erros em projetos de tradução que incorporem revisão ou edição, o revisor pode impor a sua conceção do texto de partida ao texto de chegada produzido pelo tradutor. O seu trabalho pode ocorrer em grande parte ao nível dos segmentos, ainda que o grau em que os revisores podem fazer mudanças estruturais maiores possa ser limitado pela ferramenta de tradução assistida por computador ou pelo plano de tarefas determinado pelo fornecedor de serviços linguísticos. Nesses casos, as produções de textos de chegada concorrentes podem, assim, refletir o que Mellinger e Shreve (2016)Mellinger, Christopher D., and Gregory M. Shreve 2016 “Match Evaluation and Over-editing in a Translation Memory Environment.” In Reembedding Translation Process Research, edited by Ricardo Muñoz Martín, 131–148. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar consideram como o comportamento de sobreedição. Consequentemente, o pressuposto de que a edição pode servir o mesmo papel de controlo de qualidade e ser executado de forma semelhante à da tradução apenas humana deve ser desafiado à luz do crescimento da importância do comportamento avaliativo no fluxo de trabalho de tradução. Do mesmo modo, a saliência dada à proposta de solução e às fases de avaliação do comportamento de resolução de problemas desafia concetualizações prévias do papel da edição e da revisão na avaliação da qualidade da tradução.

6.Conclusão

A incapacidade de reconsiderar a forma como a revisão é feita pode ter um impacto significativo no conceito de qualidade. A revisão deve ter em conta o processo de produção do texto, o qual deixou de ser uma parte do fluxo de trabalho relativamente linear, assim como a discussão dos conceitos de adequação, cognição distribuída e saliência aplicados ao comportamento de revisão, sobre como um modelo linguístico de qualidade não pode ser adotado como o único indicador de qualidade. Ao invés, os modelos de AQT precisam de ser expandidos para incluir a revisão e a edição como componentes explícitos. As abordagens orientadas para o produto não têm suficientemente em conta as considerações extratextuais, nem captam os modelos de tarefa dinâmicos resultantes da introdução de novas tecnologias de tradução. Estes modelos podem ser integrados em quadros de qualidade mais abrangentes, mas não podem ser considerados como a única norma perante a qual a qualidade deve ser medida. Os pressupostos implícitos que decorrem de abordagens puramente orientadas para o produto relativamente à qualidade da revisão e edição são, assim, insustentáveis.

A reavaliação da qualidade da tradução de forma a incluir a edição e a revisão tem potenciais implicações na indústria linguística. Para dar um exemplo, as tabelas normais de preços baseiam-se sobretudo na contagem de palavras como o principal indicador do custo. Ao trabalhar com ferramentas de memória de tradução, os fornecedores de serviços linguísticos podem também fornecer um desconto baseado num algoritmo específico da ferramenta de tradução assistida por computador que determina a “semelhança” relativa de um segmento de texto traduzido em memória com o segmento de tradução em curso.1515.A semelhança entre um segmento de texto traduzido em memória e um novo segmento é muitas vezes descrita em termos de correspondências. Uma correspondência exata ou de 100% representa um segmento que é idêntico à unidade de tradução armazenada numa memória de tradução. Uma fuzzy match, pelo contrário, reflete uma tradução que é semelhante a uma unidade de tradução armazenada, mas que requer revisão por parte do tradutor ou do editor. Esta determinação é feita por uma variedade de fatores e pode ser calculada através da correspondência baseada em caracteres, erros de formatação ou algoritmos relacionados com o contexto. Por seu turno, os tradutores, quando aplicam as soluções propostas, podem ser pagos por um valor inferior ao que aplicam quando fornecem a sua própria tradução. O desempenho simultâneo da tradução e da revisão, as estruturas de preços concorrentes associadas, e a forma como cada tarefa é avaliada no que diz respeito à qualidade, pode potencialmente alterar as práticas correntes, exigindo um maior escrutínio.

Isto não quer dizer que este modelo de remuneração esteja totalmente errado, ou que a revisão seja um serviço sem valor acrescentado; na verdade, na minha opinião, isto indica que estes modelos da indústria se baseiam em pressupostos fundamentais. Os fornecedores de serviços linguísticos deveriam rever os seus atuais fluxos de trabalho e processos internos para determinar quando e como o valor é acrescentado durante o processo de tradução. Tal como referido acima, os revisores são normalmente o único bastião de qualidade no processo de tradução. Este estatuto deve ser investigado em maior detalhe dados os pressupostos inerentes a esta tarefa. Além disso, os fornecedores de serviços linguísticos têm de enfatizar a gestão terminológica e identificar os requisitos específicos do cliente passíveis de ser incorporados ao longo do processo. Ao fazê-lo, os desafios colocados pelas abordagens orientadas para o produto em termos de qualidade da tradução podem ser mitigados, sendo possível oferecer uma base de referência perante a qual os revisores e os editores podem avaliar a versão da língua de chegada. Um modelo orientado para o processo de qualidade de tradução que incorpore as tarefas de edição e revisão contribui para a nossa compreensão do que constitui a qualidade da tradução, nomeadamente no que diz respeito à utilização de ferramentas de tradução.

Para concluir, a revisão na era digital implica que o processo de produção de texto seja incluído na avaliação das traduções; a abordagem da qualidade como uma série de medidas objetivas que apenas consideram os textos traduzidos é claramente insuficiente. Por outro lado, a qualidade da tradução deve ser repensada de modo a englobar a natureza evolutiva da edição e da revisão, particularmente no que diz respeito ao papel dinâmico que desempenham as tecnologias da tradução no ciclo de vida dos documentos.

Agradecimentos

Gostaria de agradecer aos revisores e editores anónimos que contribuíram com os seus comentários estimulantes e ajudaram a consolidar este artigo.

Notas

1.Práticas de revisão semelhantes são observadas na União Europeia, particularmente no que diz respeito à legislação multilingue (Wagner, Bech e Martínez 2002Wagner, Emma, Svend Bech, and Jesús M. Martínez 2002Translating for the European Union Institutions. Manchester: St. Jerome.Google Scholar). Os processos de revisão são por vezes levados a cabo por colegas de níveis superiores. Noutros casos, advogados ou juristas-linguistas executam esta tarefa, para além de outras tarefas de redação e de cariz linguístico que estão fora do âmbito do fluxo de trabalho tradicional de tradução (Šarčević and Robertson 2015Šarčević, Susan, and Colin Robertson 2015 “The Work of Lawyer-Linguists in the EU Institutions.” In Legal Translation in Context: Professional Issues and Prospects, edited by Anabel Borja Albi and Fernando Prieto Ramos, 181–202. Bern: Peter Lang.Google Scholar).
2.Embora algumas características textuais possam ser difíceis de classificar como um erro no âmbito de uma norma dominante, o mesmo não acontece com outro tipo de erros, de cariz linguístico ou terminológico.
3.A ISO 17100 (2015ISO 17100 2015Translation Services – Requirements for Translation Services. Geneva: ISO.Google Scholar) substituiu a norma europeia; no entanto, dada a prevalência da EN 15038 na literatura da especialidade, ambas as normas são aqui mencionadas como um ponto de referência.
4.O trabalho de Bass (2006)Bass, Scott 2006 “Quality in the Real World.” In Perspectives on Localization, edited by Keiran J. Dunne, 69–94. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar centra-se em grande parte no trabalho de localização. No entanto, estes comentários podem ser alargados a outros contextos de tradução. Para uma descrição da gestão da qualidade específica da localização, ver Dunne (2006)Dunne, Keiran J. 2006 “Putting the Cart behind the Horse: Rethinking Localization Quality Management.” In Perspectives on Localization, edited by Keiran J. Dunne, 95–117. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar.
5.Ainda que não apresentada explicitamente na obra, a abordagem de Williams (2004)Williams, Malcolm 2004Translation Quality Assessment: An Argumentation-Centred Approach. Ottawa: University of Ottawa Press.Google Scholar à avaliação da qualidade da tradução parece basear-se na Teoria da Estrutura Retórica de Mann e Thompson (1988)Mann, William C., and Sandra A. Thompson 1988 “Rhetorical Structure Theory: Toward a Functional Theory of Text Organization.” Text 8 (3): 243–281. DOI logoGoogle Scholar.
6.A descrição aqui feita dos modelos de avaliação da qualidade da tradução não é de forma alguma exaustiva. A monografia de Drugan (2013)Drugan, Joanna 2013Quality in Professional Translation: Assessment and Improvement. London: Bloomsbury.Google Scholar sobre a qualidade na tradução profissional traça o desenvolvimento de abordagens de cima para baixo e de baixo para cima da avaliação e da qualidade, frequentemente em desacordo. Lee (2006)Lee, Hyang 2006 “Révision: Définitions et paramètres.” Meta 51 (2): 410–419. DOI logoGoogle Scholar e Brunnette (2000)Brunette, Louise 2000 “Towards a Terminology for Translation Quality Assessment: A Comparison of TQA Practices.” The Translator 6 (2): 169–182. DOI logoGoogle Scholar apontam de forma semelhante para conceções opostas de qualidade da tradução. Para uma discussão mais alargada sobre as várias abordagens à avaliação da qualidade da tradução e o debate significativo em torno do que constitui qualidade, ver House (2015)House, Juliane 2015Translation Quality Assessment: Past and Present. New York: Routledge.Google Scholar.
7.O sistema tradicional de gestão de projetos em cascata foi descrito no contexto da tradução e localização (por exemplo, Dunne 2011 2011 “From Vicious to Virtuous cycle: Customer-Focused Translation Quality Management Using ISO 9001 Principles and Agile Methodologies.” In Translation and Localization Project Management, edited by Keiran J. Dunne and Elena S. Dunne, 153–187. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar; Drugan 2013Drugan, Joanna 2013Quality in Professional Translation: Assessment and Improvement. London: Bloomsbury.Google Scholar) como contendo as abordagens mais constantes, tais como a metodologia Agile (Dunne 2011 2011 “From Vicious to Virtuous cycle: Customer-Focused Translation Quality Management Using ISO 9001 Principles and Agile Methodologies.” In Translation and Localization Project Management, edited by Keiran J. Dunne and Elena S. Dunne, 153–187. Amsterdam: John Benjamins. DOI logoGoogle Scholar). Em particular, uma mudança de projetos de tradução exclusivamente baseados em texto para a localização baseada no conteúdo exige que se reconsidere uma progressão linear através da tradução-edição-revisão.
8.A propósito disto, o estudo etnográfico de Koskinen (2008)Koskinen, Kaisa 2008Translating Institutions: An Ethnographic Study of EU Translation. Manchester: St. Jerome.Google Scholar da Comissão Europeia observa que o processo de revisão, embora apontado como sendo imprescindível, muitas vezes não é dotado de recursos e tempo suficientes nos fluxos de trabalho da tradução. A potencial eliminação da revisão do fluxo de trabalho de tradução compromete ainda mais os princípios de qualidade, na medida em que os padrões profissionais estão muitas vezes desalinhados com a prática.
9.É de notar que Koby et al. (2014) admitem abertamente ter opiniões divergentes no que respeita à definição restrita ou ampla de qualidade. O seu objetivo é que a discussão conduza a um exame mais aprofundado do que constitui qualidade.
10.Esta abordagem contrasta grandemente com a rejeição de House (2015House, Juliane 2015Translation Quality Assessment: Past and Present. New York: Routledge.Google Scholar, 118) da capacidade para, no processo de tradução, se investigarem os processos cognitivos no âmbito da avaliação da qualidade da tradução. A principal alegação de House é que o comportamento passível de ser observado não revela de forma conclusiva o processamento cognitivo dado este ser intrinsecamente inobservável.
11.Este trabalho foi também desenvolvido por Risku, Windhager e Apfelthaler (2013)Risku, Hanna, Florian Windhager, and Matthias Apfelthaler 2013 “A Dynamic Network Model of Translatorial Cognition and Action.” Translation Spaces 2: 151–182. DOI logoGoogle Scholar e por Risku e Windhager (2013)Risku, Hanna, and Florian Windhager 2013 “Extended Translation: A Sociocognitive Research Agenda.” Target 25 (1): 33–45. DOI logoGoogle Scholar.
12.A influência da tecnologia na cognição não deve ser tomada como certa. Glenberg (2006)Glenberg, Arthur M. 2006 “Radical Changes in Cognitive Process due to Technology: A Jaundiced View.” Pragmatics & Cognition 14 (2): 263–274. DOI logoGoogle Scholar, por exemplo, investiga a cognição distribuída e a sua capacidade de influenciar a compreensão da linguagem e conclui que ela não altera significativamente o processamento cognitivo. Este debate está fora do âmbito deste artigo; contudo, a aplicação do conceito de ciência cognitiva à compreensão da linguagem é outro exemplo da utilidade de revisitar noções tradicionalmente sustentadas, tal como defende Muñoz Martín (2010)Muñoz Martín, Ricardo 2010 “Leave No Stone Unturned: On the Development of Cognitive Translatology.” Translation and Interpreting Studies 5 (2): 145–162. DOI logoGoogle Scholar.
13.Suojanen, Koskinen e Tuominen (2015Suojanen, Tytti, Kaisa Koskinen, and Tiina Tuominen 2015User-Centred Translation. New York: Routledge.Google Scholar, 130) referem o primeiro passo como um processo de controlo de qualidade heurístico em que o tradutor se autorrevê ou verifica o seu trabalho em várias fases. No contexto do presente documento, a autorrevisão é concluída pelo tradutor antes de passar a tradução a outro agente para revisão.
14.Por seu turno, Racz (2013)Racz, Peter 2013Salience in Sociolinguistics: A Quantitative Approach. Berlin: Mouton De Gruyter. DOI logoGoogle Scholar adota uma visão sociolinguística, em contraste com estas noções de saliência, mais tradicionais na linguística.
15.A semelhança entre um segmento de texto traduzido em memória e um novo segmento é muitas vezes descrita em termos de correspondências. Uma correspondência exata ou de 100% representa um segmento que é idêntico à unidade de tradução armazenada numa memória de tradução. Uma fuzzy match, pelo contrário, reflete uma tradução que é semelhante a uma unidade de tradução armazenada, mas que requer revisão por parte do tradutor ou do editor. Esta determinação é feita por uma variedade de fatores e pode ser calculada através da correspondência baseada em caracteres, erros de formatação ou algoritmos relacionados com o contexto.

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Endereço de correspondência

Christopher D. Mellinger

Department of Languages and Culture Studies

University of North Carolina at Charlotte

9201 University City Blvd.

Charlotte, NC 28223

USA

[email protected]